Quem sai aos seus, não degenera. - História de um serial killer
Autora: Elyon Somniare (http://fanfiction.com.br/u/18441/)
Classificação: +13
Categorias: Originais
Gêneros: Darkfic, Death Fic, Drama, Humor Negro
Avisos: Mutilação, Tortura, Violência
Leituras:
Hairo Rodrigo
O título da história só não é um
toque tão grande de estilo quanto o uso da “cantinela” no desenrolar do texto.
E entenda que não é a cantiga em si que é genial, mas o uso dela. Os versos são
simples, mas o tom e o ritmo da história são ditados por cada um dos meninos
negros que vão ficando pelo caminho. E quando o ultimo se despede de nós a
história se despede com ele, deixando o leitor com um gosto macabro e ao mesmo
tempo despretensioso na boca. Não existe outro titulo para a história além
desse. Não poderia existir.
O enredo é bastante simples, por
mais complexo que possa parecer. Fazer de uma pequena criança uma sociopata não
é algo novo ou surpreendente em si, mas deveria ser incrivelmente complexo.
Deveria ser. A autora nos prova que não é. Para ela é muito fácil na verdade.
Tudo é uma questão de se desenvolver esse enredo, que em poucas mil palavras traz
a vida uma realidade um tanto quanto estranha à maioria.
O que me leva ao próximo ponto, já
que é impossível tratar de desenvolvimento do enredo sem tratar do
desenvolvimento da personagem. Porque essa história em especial não é a história
de um Serial Killer como a autora nos diz na sinopse. Ele é apenas o plano de
fundo. Essa é a história da Marina, filha dele.
É muito interessante observar a
construção cuidadosa dos traços da personagem que pode surpreender um leitor
despreparado na primeira leitura. As características dessa menina - que o
leitor pode imaginar ser inocente em um primeiro momento - são bastante
reveladoras daquilo que ela prova ser no final.
Afinal, a primeira imagem que
temos é de uma menina brincando de matar formigas no quintal de casa. Uma casa
caindo aos pedaços, mas que não a incomoda porque é tudo o que ela se lembra de
conhecer. Uma casa escura, mas que não a assusta como assustaria qualquer
criança normal. E apesar de tudo, ela tem um pai que se preocupa com ela, e que
a ensinou muito bem a arrumar a mesa da cozinha depois do almoço, e a não
brincar com fogo. Além, é claro, de apresentar a ela bonitas histórias e contos
de fada, como a sua preferida, do temeroso Barba-Azul.
Tudo isso, complementado com
passado triste e conturbado de pais problemáticos, fugas, exílio e incêndios
criminosos e assassinos. Meu Deus, quanto uma pequena criança precisa suportar
para que seja o suficiente? A autora te faz, de uma maneira leve e
despretensiosa, gostar e ter pena da pequena e inocente Marina.
E então revela que ela, como toda
criança normal, tem também um brinquedo preferido.
Ai você se lembra do que ela
estava fazendo quando você começou a ler, do seu conto de fadas favorito, de
toda sua história de vida, e percebe que na verdade, apesar do final
surpreendente, a Marina não é uma personagem surpreendente. Ela chega a ser até
natural. E todos os detalhes eram, na verdade, migalhas de pão deixadas no
caminho para que você não se perdesse.
Não sei os outros, mas eu em particular
gostei da Marina, mesmo depois de tudo. Ela me fez sorrir espontaneamente.
Uma vez eu li algo que dizia “the demons are in the details” ou “os demônios estão nos detalhes”. E tudo,
nessa história, está nos detalhes. Desde as passagens cortadas pela cantiga,
até cada aspecto da pequena casa abandonada.
Gramaticalmente não posso
comentar o texto, tendo em vista que a autora fala um português diferente do
meu. O que posso dizer é que essa diferença foi, ao menos para mim, outro ponto
positivo do texto. A língua diferente, por si só, prende a atenção, fazendo com
que você se preste aos detalhes.
Por não ver as construções
gramaticais que estamos tão acostumados, por não se utilizar inteiramente de um
vocabulário do meu dia-a-dia, fui obrigado a ler o texto com mais cuidado do
que o normal. Isso pode ser encarado por
alguns como um ponto negativo, mas é só assim que você se prende a verdadeira
estrutura do texto, e o que cada frase e palavra representam. E isso não tem
necessariamente a ver com a exatidão gramatical da autora ou do leitor, e é
algo que poucos textos conseguem fazer.
O trabalho está muitíssimo bem
feito, e eu não mudaria uma vírgula no texto. A autora merece todo o meu
respeito e admiração, além da recomendação da obra para quem quer que aprecie
uma leitura de qualidade.
Sweet Poppy
Não sei por que, mas fez-me lembrar "A Troca" de Clint Eastwood, em que o menino acaba ajudando o assassino das crianças. Confesso que nunca pensei que a canção dos meninos negros ficasse tão estranha na tradução. A rima perdeu-se por completo. Mas o assunto aqui é outro: Dez Meninos Negros de Elyon Somniare.
Todos os que no passado tiveram pesadelos à custa de Barba Azul é melhor terem cuidado, esta fic pode (e certamente vai) mexer com vocês.
É incrível a capacidade que as crianças têm para modelar a realidade à coisas que lhes são familiares: os sacos velhos de batatas ou os monstros no porão são apenas alguns exemplos disso. "Quão similares a seres humanos conseguiriam as fadas ser?"
Uma história completamente sinistra em que a ingenuidade e inocência de uma criança tomam um rumo macabro. O que aconteceria se uma criança inocente e de aparência vulnerável como Marina se tornasse, mesmo que sem saber, uma assassina? Você acreditaria nas acusações feitas a alguém tão jovem? Poderia uma criança cometer tal crime?
Profundamente bem narrada, com um enredo e personagens bastante complexos esta é uma história a ler. Parece mesmo que "Quem sai aos seus não degenera."
Miss Page
Dez Meninos Negros é surpreendente. Me peguei inerte enquanto me aprofundava na narrativa, e até lamentei quando me dei conta de ter chegado ao fim da leitura.
Não seria o tipo de fic que abriria, usualmente, a julgar pelo título e gênero. No entanto, me senti satisfeita por tê-lo feito.
Me chamaram a atenção, principalmente, os versos salpicados ao longo dos parágrafos, que ditaram um ritmo extremamente envolvente, quase como um soneto. Outro ponto forte é a descrição precisa e detalhada, com palavras muito bem colocadas.
Também adorei a forma como a autora usa da aparente inocência de uma criança para nos surpreender no desfecho, quando esta mostra as mesmas tendências psicopatas do pai.
Eis uma obra que merece todos os elogios possíveis.
Becca
A história já começa de forma incomum, onde a personagem principal, uma menina de 6 anos, se encontra esmagando formigas de forma cruel. As cenas que se seguem, como a descrição da casa e a primeira citação das regras criadas pelo pai já dão algumas pistas sobre os próximos acontecimentos.
O uso da cantilena torna tudo ainda melhor, além da autora ter criado um clima misterioso, e eu diria que até sombrio, ainda há esta curta canção que segue o ritmo da fanfic perfeitamente, completando cada cena que se segue. A medida que você lê e acompanha as reações de Marina, cada frase sobre os meninos negros deixa tudo mais interessante.
Apesar disso, acredito que a história teve um final, digamos, previsível. Desde o inicio eu imaginei que o pai fosse um serial killer, mas no final algo me surpreendeu. Talvez porque eu já tenha lido algo parecido a história tenha se tornado previsível em certos pontos, mas, apesar disso, a medida que se lê a trajetória de Marina, as regras sendo quebradas e a descoberta da menina, é possível perceber que não se trata de um clichê qualquer.
Contrariando a previsibilidade, há a surpresa na reação do pai dela, inicialmente se imagina que ele talvez a puna por descumprir as regras, mas não, ele a deixa participar daquilo, além do modo como Marina trata a situação, como se a mulher que ela atingiu com a pedra fosse tão insignificante como uma das formigas que ela havia esmagado.
Foi uma história que fugiu do padrão romântico, trazendo um lado bem mais sombrio e interessante, muito bem escrita e que é de leitura muito agradável. O único problema é ser um conto tão curto, porque eu adoraria ler mais.
Lua Martins
Acho o texto um tanto naturalista. A escolha do tema, o conformismo da garota, sua reação final.
A menina aqui é alguém que foi moldada pelo ambiente em que se encontrava... Talvez pudéssemos entrar numa discussão sobre uma ‘maldade’ que estaria já incubada, crescendo devagarzinho e que nada teve a ver com o que ela vivia... No entanto, com tudo que ela já viu, não consigo pensar muito nessa possibilidade. No mínimo, o local foi o principal responsável pela prematura manifestação.
Só que mais do que ‘uma personalidade moldada pelo meio’, sua escrita nos mostra aquele cenário ordinário e um ar de conformidade palpável. É aquela ausência de felicidade, que também é comum demais para ser triste. Mas alguma coisa tem de nos impulsionar a ler, não é? Há dois fatores que vencem a conformidade – nesse caso, a nossa - e dão brilho ao conto.
A cantilena. Nunca li Agatha Christie, então a impressão que a cantilena me passou veio totalmente por conta da autora. Ela acabou reforçando o tom da one-shot, mas ainda sim, nos trazendo sensações novas.
Os versos são uma tragédia meio “sem noção”. Não digo isto no mau sentido. É como se a cantiga nos dissesse: a vida é isso aí, umas coisas acontecem do nada, outras se tornam tudo que você achava que não eram e então, acabou. Alguém chora, alguém morre, alguém some... Alguém abraça um urso. E na mesma trajetória sem sentido, temos de continuar vivendo. Esperando até que algo aconteça também conosco... É triste, pura desesperança...
É a vida da garotinha. E tudo que, provavelmente, sua vida continuará sendo. Enfim, reforçando o tom desanimado do conto.
Todavia, não foi só isso. Embora não tenha uma ligação tão direta assim com a história – no que diz respeito ao enredo - seu uso também foi um ‘marca-passo’ excelente. Indiscutivelmente, a história não teria tanta tensão sem ela. Está presente na cena que mais gostei...
Aquela curiosidade que nos remói, cutuca... Coça. Faz tudo ao mesmo tempo. Marina, ainda que uma simples criança – ou justamente por isso – sofre desse mal. Avançando lentamente, relembrando-se da história trágica da noiva de Barba Azul, enquanto ainda profere a cantilena... As regras de seu pai soando em seus ouvidos. Essa combinação me fez prender a respiração. O que ela encontraria?
O tema não é assim tão original e provavelmente, boa parte dos leitores já imaginava haver um corpo semimorto ali. Só que esquecemos que já adivinhamos.
Aí também temos o outro elemento que enriquece a história... Verdadeiramente, a autora pegou um enredo que chama por clichês e criou um final inusitado. Mas fez isso porque conhecia bem seu mundo e sua garotinha... E demonstra isso pela narração.
As descrições calmas, os pensamentos e lembranças. Não importa que fosse mais uma garotinha. Essa aqui é Marina, que pensa de tal forma, que assiste Barba Azul e tem sua opinião sobre ele... Que viveu e viu coisas ruins acontecerem e teve de aceitar.
No final, a garota nem sabe mais o que é maldade. Se ela sente que aquilo não é exatamente o certo a se fazer? Talvez... Mas era também o que ela devia ter realizado, simples assim. Ela aprendeu isso com sua sabedoria infantil.
Eu acredito que Marina arremessou aquela pedra...
Uow! Tantas resenhas legais! Adoro ver que tem leitores de qualidade no AS. Fico até mais nervoso caso minha fic seja sorteada na proxima rodada - ahahahah
ResponderExcluirMas a Elyon merece todos os elogios que ela recebeu por aqui. Parabéns pra ela, e mais uma vez parabéns pro site, porque acho que esse projeto é sensacional!
AS?
ExcluirxD
Meu Deus! Que furo! No Nyah! Nossa senhora...
ExcluirQuero enfiar minha cara na terra agora, sério! hahahaha
Foi mega mal o furo galera. Mega mal mesmo!
Perder a linha pra que né?
Bom, é legal ver que tem bons leitores no Nyah!!!
Juro, sempre amei os reviews do Nyah porque na maioria das vezes tem mais conteúdo...
Anyway, acontece. Desculpa!
hahahahaha
Nah, fica tranquilo, meu querido, só me pareceu engraçado. Nós que ficamos felizes com sua participação nas nossas atividades =D
ExcluirObrigada mesmo =D
Oops, um pequeno deslize...
ResponderExcluirMas Rodrigo, acho que mais problemático seria para nós, que nos sentiríamos na obrigação de fazer, no mínimo, uma resenha tão detalhada quanto a sua. A tarefa pesa, hein.
E só agora percebi que meu final ficou estilo: Eu acredito em Harvey Dent... - É Batman no subconsciente.
Excelente resenha, Lua, representando os betas nessa rodadas =D
ExcluirObrigada =D
Agora que leio as resenhas reparo em muita coisa que me tinha escapado durante a leitura e mesmo ao escrever a minha resenha. Muitos parabéns a todos e ao Nyah pela iniciativa. Confesso que quando vi "O Clube de Leitura de Jane Austen" (acho que é esse o nome do filme) fiquei com ciúmes de não poder participar numa coisa assim. Agora posso. Muito obrigado. Adorei! Vou tentar participar em mais rodadas.
ResponderExcluirDemorei para responder (sem net), mas respondo =)
ResponderExcluirObrigada a todos os que se disponibilizaram para resenhar "Dez Meninos Negros", parecem-me todas bem justas e honestas, abarcando vários pontos em comum. Não podia esperar melhor.