Como escrever de forma coerente

segunda-feira, 25 de abril de 2016


Por: Ana Mesquita

Oi, gente! Eu sou a Ana, e hoje nós vamos falar um pouco sobre como escrever da forma mais coerente possível.

Antes de começar de fato com as dicas, é necessário deixar bem explícito o que é a coerência, qual a necessidade dela e por que você deve almejá-la em sua escrita. E isso não vale apenas para as suas histórias originais ou fanfics, mas também para aquela redação da escola, do ENEM, aquele trabalho escrito que você tem de entregar, algum comunicado que tem de fazer... Enfim, absolutamente tudo o que você faz objetivando que outra pessoa compreenda, necessita de coerência.

Mas afinal, o que é coerência?

Algumas das definições que o dicionário Priberam dá a essa palavra (coerência) são as seguintes: 

2. “Conformidade entre fatos ou ideias.”

3. “Nexo, conexão.”

Como eu achei esses conceitos um tanto quanto rasos demais para nosso objetivo, procurei um pouco mais e encontrei esta definição aqui:

“Coerência é a característica daquilo que tem lógica e coesão, quando um conjunto de ideias apresenta nexo e uniformidade. Para que algo tenha coerência, este objeto precisa apresentar uma sequência que dê um sentido geral e lógico ao receptor, de forma que não haja contradições ou dúvidas acerca do assunto. A origem da palavra “coerência” está no latim cohaerentia, que significa “conexão” ou ‘coesão’”.

Basicamente, o que esse texto nos diz é que ter coerência significa ter sentido.

Você pode estar pensando que isso é óbvio, afinal, ninguém perderia tempo escrevendo coisas que outra pessoa não conseguiria entender...

O problema é que, algo que faz um sentido enorme na sua cabeça pode não ser tão óbvio assim para outra pessoa. Por exemplo, quando o professor vai explicar aquela matéria que você tem toda a dificuldade do mundo. Nada do que ele diz faz sentido, certo? Apesar disso, está tudo muito claro na cabeça dele.

É a mesma coisa em uma história. Você pode conseguir visualizá-la perfeitamente em sua cabeça, mas você precisa ser muito cuidadoso para passar ao leitor exatamente aquilo que você quer passar.

E é aí que entra a coerência.

E quero avisar que se você tem dúvidas mais complexas a respeito de algum dos tópicos desse artigo, aqui no blog tem outros artigos bem mais detalhados do que esse aqui. Minha intenção é apenas lhe mostrar os pontos que você precisa se atentar para dar coerência ao seu texto, okay?

Então, vamos começar!

Defina um objetivo e organize suas ideias

Para explicar melhor vamos definir duas esferas: a da história completa e a do capítulo. 

Vamos começar com a organização da esfera da história completa. Assim que você decide começar uma história, a primeira coisa a ser feita é planejá-la, certo? Você define início, meio e fim, com todos aqueles pormenores que vão delinear a sua escrita. E só depois de organizar essas ideias e definir esse objetivo é que você pode passar para a segunda esfera.

Na segunda esfera, que é a do capítulo, há muito mais detalhes a serem pensados. No entanto, a primeira coisa a se fazer é perguntar-se: qual o seu objetivo com aquele capítulo? É apresentar ao leitor seu personagem principal? É uma reviravolta? Revelar um segredo? Não importa qual seja, todo capítulo deve ter um objetivo e você precisa tê-lo claramente na cabeça enquanto está escrevendo-o.

Para alcançar seu objetivo, você provavelmente tem um monte de ideias para escrever, um monte de acontecimentos, diálogos, descrições, sentimentos, etc.

Primeiramente, organize tudo isso em sua cabeça e se foque no que é essencial.

Não desperdice tempo escrevendo diálogos sem nenhum objetivo. Como pessoas apenas se cumprimentando, quando isso não tem um impacto real na relação delas. Não descreva coisas que não sejam importantes, porque, quando você gasta palavras com algo, o leitor pressupõe que aquilo vai ter algum significado maior para a história, então, se não tiver, apenas não o faça.

Se você estiver escrevendo ações, seja objetivo, principalmente se o que você está desenvolvendo envolve mais de uma ação ou então mais de uma pessoa. Certifique-se de que cada etapa das ações está descrita de uma maneira clara para o leitor. Não se esqueça de indicar também a conclusão de uma ação antes de começar outra.

Já vi muitas histórias em que as cenas que envolviam muitas ações ficavam confusas e, quando parecia que o autor começava a ter dificuldade para articular todas as informações que ele mesmo inseriu na cena, ele ou ela simplesmente pulavam para uma próxima. Não façam isso, mesmo que tenham dificuldades, a escrita nem sempre é algo legal, muitas vezes a gente tem que passar por partes chatas, mas não desanimem, okay? 

Mantenha e mesma narração com a qual começou

Se você começou a escrever em terceira pessoa e usando verbos no pretérito, continue com essa mesma narração, a não ser que haja motivo plausível para mudar. Mas não use a narração em terceira pessoa subitamente, e nem deixe escapar verbos que deveriam estar no mesmo tempo verbal do que a maioria dos outros.

Vamos ver esse exemplo aqui:

Lúcia acorda com a música irritante do seu despertador. Inconscientemente ela aperta o botão soneca e voltou a dormir. Horas mais tarde,abre os olhos de repente, atrasada para seu primeiro dia de aula. Levantou-se com um pulo e correu para o banheiro. Ao me olhar no espelho, faço uma careta de desgosto para as bolsas roxas embaixo dos meus olhos. Nem maquiagem daria jeito naquilo.

Conseguem perceber o incômodo que dá todas essas incoerências? Como leitores, ficamos tão angustiados com essas incongruências que não prestamos tanta atenção no que realmente está sendo dito. Pode até parecer bem óbvio, mas ainda assim acontece, então fique atento a isso em suas revisões.

Tenha um conhecimento razoável sobre gramática

Não precisa acertar tudo. A questão aqui não é conhecer cada detalhe morfossintático da Língua Portuguesa, mas alguns pontos são extremamente necessários para que o leitor entenda sua história. Vou indicar aqui três que eu elegi como os mais importantes:

  • Atente-se à grafia das palavras. Muitas vezes, palavras ou expressões escritas de forma errada podem gerar interpretações completamente opostos, como acontece com o mas/mais e a expressão de “de encontro a” e “ao encontro de”.
  • Pontue o mais corretamente possível. Não tem importância se você esquecer-se de uma vírgula ou outra, mas se o seu texto tiver constantes equívocos sobre isso, o leitor pode se confundir.
  • Preste atenção à concordância. A língua portuguesa pode ser muito subjetiva, muitas vezes ocultamos termos que ficam subentendidos, mas, para fazer isso de forma efetiva sem causar confusão e/ou ambigüidade temos que garantir que todos os termos que estão conectados também estão concordando entre si.

Seja fiel aos seus personagens

Pense no cuidado com que o autor da história original criou seu personagem, ou mesmo você, se for original ou se tiver dado uma nova personalidade para ele. Não é legal simplesmente ignorar isso e forçar situações que não estão de acordo com seu personagem. 

Não seria coerente, por exemplo, que a Hermione Granger de Harry Potter bebesse muito em uma festa e dançasse loucamente. A não ser que aconteça em uma fic OOC (out of character, ou seja, que não é fiel ao personagem original), isso não faria sentido nenhum e deixa o leitor com uma sensação de “o que foi que eu perdi para chegarmos nesse ponto?”.

E mesmo que você quem tenha criado seus personagens, mantenha-se fiel à personalidade que criou para ele. Não é convincente, por exemplo, que um personagem apresentado como inteligente não perceba o que ocorre ao redor dele, nem tenha capacidade de pensar em soluções para seus problemas. Assim como não é coerente que aquele personagem que foi sempre conciso apareça de repete com um discurso enorme. 

Deu pra entender onde quero chegar, certo? Então, ainda com relação aos personagens:

Cuidado com a forma com que você se refere a eles

“O loiro”, “o moreno”, “o mais alto”, “o mais magro”... Todas essas são características físicas, e além de causarem um estranhamento ruim ao leitor quando usadas para se referir ao personagem, eles podem ser confusos. Afinal, talvez quem estiver lendo possa esquecer-sedessa característica específica da pessoa a qual você se refere e apenas torcer para estar associando-a ao personagem certo. Não soa muito legal, certo?

Há vários recursos para impedir a repetição do nome de um personagem no texto, você pode usar os pronomes “ele”, “ela”, “eles” ou “elas”. Ou então, pode construir algo em que apenas a desinência do verbo seja suficiente para deduzir rapidamente a quem está se referindo.

Verossimilhança

A verossimilhança é a qualidade daquilo que é verossímil. E verossímil nada mais é do que: 

1. Que tem aparência de verdade.

2. Semelhante à verdade. = PLAUSÍVEL, PROVÁVEL

Um texto verossímil não é aquele que segue todas as leis da realidade, mas sim aquele que convence o leitor de que aquilo é possível, de que aquela é a verdade que há na sua história e que ela faz sentido! Não basta dizer que Maria saiu voando e pronto. Você tem que dar uma explicação plausível para que a gravidade subitamente tenha parado de agir sobre ela.

Vamos pegar Star Wars por exemplo. Se você já assistiu a algum filme da franquia, sabe que muita coisa ali não segue as leis da física, mas ainda assim, faz você acreditar que aquilo é não apenas plausível, mas que também pode ser real. Se não viu... Bom, acho que pegou a ideia geral.

Enfim, convença quem quer que esteja lendo sua história de que aquilo que está escrito pode ser real!

Releia seu texto

Para mim, essa é a dica mais importante que darei: depois que você tiver escrito seu capítulo se atentando a todos os tópicos anteriores, releia-o e note se você precisou voltar em algum ponto da sua leitura e ler novamente para que aquilo que você tenha escrito faça sentido em sua cabeça.

Se você precisar reler algo, apague esse trecho e escreva-o novamente de outra forma, de preferência mais objetiva.Se desfaça também das ambiguidades. Se algum trecho de sua história puder se interpretado de mais de uma forma, reescreva-o.

Evite, de todas as maneiras possíveis, que seu leitor tenha que ler o texto mais de uma vez para entender o que você quer passar. Isso quebra a fluidez e o clima da história. Afinal, se você estiver ocupado tentando entender o que está acontecendo naquela cena, não vai ficar preocupado com o que o personagem principal está passando, muito menos comovido. Ou seja, evite incoerências para que a leitura as sua história fluída e agradável. 

Considerações Finais:

Eu sei que todas essas informações podem ser assustadoras. Mas quando começar a escrever, você vai perceber que tem mais facilidade com alguns desses tópicos do que com outros. E eles vão se tornar instintivos em sua escrita.

No entanto, se, de fato, você tem algum problema em um desses aspectos, se esforce. Reescreva quantas vezes forem necessárias e leia o quanto puder sobre o assunto. O ato de construir uma história nunca é algo fácil ou rápido, mas a prática traz melhoras. Então a dificuldade que você tem ao escrever algo hoje, amanhã estará menor, e menor, e menor, até ser trivial. 

Lembrando que, apesar de eu ter passado por todos esses tópicos de uma forma superficial, aqui no blog tem vários artigos lindos sobre todos esses assuntos com dicas preciosas pra quem precisar saber mais sobre. É só você clicar ali na aba “Links Uteis” que irá encontrar uma lista de postagens dividias por assuntos.


A minha intenção era apenas apontar as coisas com as quais você precisa se preocupar. Agora, fica com você pesquisar mais sobre o assunto e aplicar esse novo conhecimento da melhor forma possível em sua história.

Referências:

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Resenha: Romeu & Julieta

terça-feira, 19 de abril de 2016

Por: Rodrigo Caetano



Galera, eu escolhi Romeu & Julieta para a resenha de abril por um motivo bem particular, devo dizer. Um motivo até pessoal, que pode (provavelmente irá) levar muitas pessoas a discordarem de mim. Porém, para fazer disso interessante e útil para todo mundo, eu resolvi esclarecer uma coisa que muita gente nem sabe que é confusa, e acaba fazendo errado.

Todo mundo aqui sabe quem foi William Shakespeare, não é? Amiguinho(a), se você não conhece, favor ir pesquisar. Eu até ajudo e deixo aqui o link da página dele da Wikipédia. É o mínimo que você precisa, em nome de conhecimentos gerais mesmo... Pois bem, todo mundo sabe que ele é um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, se não o maior. Suas peças atravessaram os séculos e ainda são referências no mundo inteiro.

Mas, o que ele escrevia mesmo? Peças, correto? Isso é um tipo de texto MUITO diferente daquele com o qual estamos acostumados, não é? Agora é a hora que alguns de vocês estão pensando que, na verdade, tem muita gente por aí que está acostumada a ler e escrever roteiros, e temos até uma categoria do Nyah! para eles. Pois bem, é isso mesmo, mas eu não disse que o Shakespeare escrevia roteiros...

Na verdade, Shakespeare é muito conhecido por seu trabalho na dramaturgia. Seus textos, que na verdade são suas peças, não podem nem devem ser confundidas com aqueles roteiros que nós conhecemos, dos filmes, séries e do desafio do Nyah! no ano passado. Na verdade, apesar de semelhantes, os dois tipos de texto tem diferenças importantes, e até algumas que podemos ver na sua própria forma. Mas vamos com calma que, como já dissemos antes, é difícil de distinguir os dois.

Isso porque enquanto o roteiro cinematográfico, ou audiovisual no geral, é produzido para ser filmado, o texto teatral é produzido única e exclusivamente para ser atuado. Ele é, ainda mais do que o roteiro propriamente dito, feito para ser interpretado, no sentido amplo da palavra.

Nesse sentido, ele é próximo do roteiro literário (e não do técnico). Como diz o Nyah!, na sua aula de português sobre roteiros, “o roteiro literário funciona como uma espécie de guia, em que as descrições do cenário e das cenas possibilitarão a transformação do texto em imagem. A história é escrita de uma maneira que possa visualizada, mas sem apresentar qualquer indicação técnica.”

Quer dizer então que as peças do Shakespeare são como os roteiros literários? Não... Quisera eu a vida fosse tão simples... Na verdade, as peças teatrais vão ainda mais longe do que o roteiro literário. 

A diferença básica aqui, entre o roteiro literário e um texto teatral, é que, mesmo que sem as especificações técnicas, o roteiro delimita alguns outros elementos que complementam a interpretação. Uma descrição simples de cenário, ou de sentimento do personagem, ou de tom de voz. Às vezes, até detalhes das ações. Enquanto isso, o texto teatral se baseia puramente nos diálogos e na interpretação dos atores. O máximo que os textos teatrais costumam fazer é marcar a localização de cada personagem na cena (dizendo, entre as falas, algo como “Julieta se afasta da janela”).

Então vemos que enquanto os roteiros, principalmente os literários, têm muito mais interferência do autor, os textos teatrais se prendem tanto aos diálogos, que apenas através de ótimas atuações, ao vivo, eles conseguem transportar todo o seu poder. E, vou além e digo que, enquanto um roteiro necessita, por definição, de uma produção audiovisual para concretizá-lo, uma peça teatral precisa apenas de pessoas dispostas a interpretá-lo. Nos bons textos, com bons atores, os diálogos costumam ser tão poderosos, que são capazes de transportar e fazer sentir, sem ajuda de cenário, música, sons ambientes ou maiores produções.

Então, para você que escreve roteiros literários, já pensou em trabalhar com textos teatrais? Enquanto o primeiro é mais visado e popular hoje em dia, o segundo costuma apresentar um maior desafio. E, como todo bom desafio, pode recompensar por ser mais fácil traze-lo à vida. Isso sem lembrar que é muito mais fácil adaptar um texto teatral para um roteiro (basta incluir as descrições necessárias) do que fazer o contrário (onde precisamos de diálogos mais fortes e poderosos).

Tendo esclarecido isso, vamos à resenha:

Título Original: Romeo & Juliet
Título Brasileiro: Romeu & Julieta
Autor: William Shakespeare
Disponível (domínio público) em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2347

Gente, não parece, mas eu falo sério quando disse que escolhi Romeu & Julieta como o livro de Abril em homenagem ao 1º dia do mês, o dia da mentira. Essa resenha contém uma opinião um tanto quanto pessoal, de uma pessoa que se sentiu enganada — pelo mundo e não pelo autor — quando terminou de ler esse livro. Uma pessoa que comprou o livro achando que estava prestes a embarcar na maior história de amor já contada ou concebida pelo homem. A história de amor que deu luz e inspiração a todas as outras.

Me desculpem os fãs, e com a máxima vênia ao gênio que foi Shakespeare, mas, ou eu não entendi essa história direito, ou ela não é nada do que me fizeram acreditar que ela seria. Eu me senti, literalmente, caindo em uma pegadinha.

Mas vamos com calma, porque tratamos não apenas de um clássico, mas de um dos maiores clássicos do mundo, e ele demanda, por respeito, um esforço extra de compreensão e de esclarecimento, pois de pouco adianta falar que o tio Will era um gênio e descascar a obra dele depois. É preciso reconhecer o que merece ser reconhecido.

Shakespeare é o pai da dramaturgia. Em termos de técnica literária e narrativa, o texto de Romeu & Julieta não deixa em nada a desejar quando comparado aos seus outros grandes clássicos, como Macbeth, Hamlet ou Ricardo III. São textos teatrais lindos, com uma capacidade inigualável de articular a linguagem. O tipo de coisa que faz dos textos teatrais tão especiais. Os diálogos são extremamente bem elaborados, e cada palavra é bem escolhida e colocada. Cada metáfora é bem construída e cada elemento, já analisado milhões de vezes nos séculos de idolatria que o texto carrega consigo, é utilizado de maneira inteligente, e tem vida, comportamento e significado próprio. Como exemplo de texto teatral, o livro é esplendoroso. Talvez esteja entre os mais lindos que existem.

Meu problema é com a trama em si, com o plot, puro e simples. Porque, antes de toda técnica narrativa, linguística rebuscada e estrutura metafórica, Romeu e Julieta é uma história, e pode ser analisada simplesmente como tal. Não retiro os méritos do autor enquanto contador de histórias, e realmente acredito que a história pode até ficar em segundo plano, com o elenco certo a atuar, mas isso é mérito do autor e dos atores. A história em si, me parece fraca.

Enquanto o mundo trata Romeu e Julieta como a maior história de amor do mundo, eu mal pude identificar que ela era uma história de amor. A linguagem de Shakespeare é clara, simples e, ao mesmo tempo elaborada. O tempo quase um personagem à parte no texto, e as metáforas incorporadas por ele são belas e poderosas. Mas, no fim das contas, toda história ainda acontece no período de 4 a 6 dias.

4 a 6 dias! Isso não dá nem uma semana!

Desculpem-me os românticos, mas não consigo considerar que duas pessoas foram impossibilitadas de se amar, se elas não tentaram nem por uma semana. E eu sei que há uma diferença enorme entre as culturas da época em que o texto foi escrito e da cultura atual, mas tantos outros textos de Shakespeare sobreviveram ao teste do tempo, que me parece desnecessário dar a essas duas personagens o seu status de imortalidade atemporal que elas claramente não merecem.

Por mais cheia de dificuldades que se possa considerar o suposto amor entre Romeu & Julieta, ainda se trata de um relacionamento juvenil, de um garoto de 16 (dezesseis) anos e uma menina de 13 (treze!), em um período curtíssimo de tempo. E tantas eram as dificuldades impostas pelas famílias, que os dois jovens mal tiveram a oportunidade de se conhecer durante o texto. Contam-se nos dedos das mãos a quantidade de tópicos de conversa que eles tiveram um com o outro antes de decidirem se casar.

E, por mais que se elogie a qualidade do autor, pouco se pode dizer do sucesso da premissa básica de uma história, que é a capacidade de fazer com que o leitor se identifique com a personagem.

Eu sei que para ser plenamente realizado, esse tipo de texto depende de uma intepretação teatral, mas, como eu disse, independente da capacidade interpretativa do ator, não se mudam as palavras ou os fatos. Se, no teatro, o ator é capaz de tornar aquilo mais relacionável, mérito dele.

No final, a impressão com que o livro me deixou, principalmente pelo seu final tragicamente bonito, não fosse tão doentio, é que essa era muito mais uma história de obsessão idealizada do que uma verdadeira e emblemática história de amor. A ideia de estrelas cruzadas, fadadas a nunca se encontrar em vida, não passou pela minha cabeça hora nenhuma enquanto lia o texto. A culpa não era das estrelas (com o perdão do trocadilho), mas da juventude e inexperiência dos dois. Por não saberem reconhecer em si mesmos o que era um sentimento legítimo e o que era tentação e atração pelo belo proibido. O que era amor, afeto e carinho, e o que era obsessão, necessidade, imaturidade.

Enquanto admirava e invejava a capacidade linguística e metafórica do autor, não pude deixar de culpar a fraqueza do homem, em vez da impossibilidade de se alcançar as estrelas. Bastou que se visse o vermelho da maçã na árvore e que se dissesse que era proibida, para que nada mais no mundo existisse que não a maçã e a nossa incapacidade de resistir à tentação de mordê-la. Mesmo que nunca a tivéssemos provado antes.

Da mesma forma que dizem que eles tiveram de morrer para se amarem na eternidade, eu digo que eles nunca deram a si mesmos a chance de se amar, e que justamente por terem morrido, nunca se amarão de verdade. 

E, só entre nós, aposto com vocês que depois de comer maçãs por um mês, eles logo cansariam, e iriam procurar outras frutas, em outros galhos. Crianças, cara...

É isso. Desculpem-me os fãs, desculpe-me Shakespeare. Eu sei que o texto é de outra época, feito para outra cultura, mas se assim o é, assim deveria ser tratado. Como uma obra-prima histórica, que deve sempre servir como referência técnica, mas que o conteúdo, como história, já foi ultrapassado pela roda do tempo. Isso não seria surpresa nenhuma, e esse texto ainda estaria em companhia de outros textos de grande importância histórica, verdadeiramente revolucionários. Mas, atual, essa história não é. Sempre me surpreendi com os textos de Shakespeare, dessa vez só não foi uma surpresa positiva. Pelo contrário, achei até que fosse uma pegadinha...


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http://oficinadeteatro.com/conteudotextos-pecas-etc/artigos-diversos/265-roteiros-x-textos-teatrais
http://youtu.be/K-qgVmsV3hM
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Como escrever sob o ponto de vista do sexo oposto (02/02) — Feminino

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Por: Mr Martell
Perfil: https://fanfiction.com.br/u/173115/


Olá! Como vão vocês? Nessa segunda parte do artigo, vamos abordar a escrita sob o ponto de vista de personagens femininas, por isso, este texto é voltado para os homens que gostariam de escrever sob a perspectiva de uma moça.

Escrever pelos olhos do sexo oposto não é fácil para nenhum dos sexos, entretanto, quando o autor é um garoto, a coisa fica mais complicada.

Mas, acalmem-se! Eu estou aqui para te ajudar. Vamos começar do início.

Vejam bem: basicamente, as mulheres só precisam tomar o cuidado, quando escrevendo do ponto de vista de um garoto, de não deixar o personagem feminino demais (caso esse não seja o objetivo, porque não há problema em um moço afeminado, contanto que a autora tenha plena consciência de que é assim que ela imaginou o personagem) e nem abusar de certos estereótipos masculinos, ao exagerar nas gírias e retirar os sentimentos para que ele seja o “machão”. E é praticamente isso.

Quando a situação é invertida, temos um quadro bem diferente.


“Mas por que diferente, Mr Martell?”


Meu caro amigo, por diversos fatores. Entenda: tanto garotos quanto garotas cresceram lendo livros, vendo filmes, séries, novelas em que os personagens masculinos atuavam em diversos setores e tinham os mais diversificados conflitos. A maioria dos personagens principais em filmes blockbusters e em franquias famosas são homens. De Chandler Bing a Superman, a figura masculina sempre foi representada das mais diversas formas. Em todas as esferas, a figura masculina é apresentada de inúmeras maneiras, nunca prendendo os garotos a um papel específico simplesmente por serem garotos.

Com as personagens femininas é diferente. Se as mulheres precisam prestar em atenção em alguns estereótipos, os homens têm que ter uma atenção triplicada; isso porque a figura feminina foi, historicamente, profundamente afundada em clichês muito mais pesados. Por isso, aqui, o buraco é mais embaixo.

Às mulheres foi dado, demasiadamente, o papel de personagem de apoio.


“Mas o que são personagens de apoio?”


Bem, personagens de apoio são aqueles cujas ações são centradas em ajudar alguém, geralmente o mocinho. São criados única e exclusivamente para o crescimento de outro personagem em detrimento do seu. São aqueles que geralmente não têm uma esfera própria, um conflito dele, um crescimento; são suportes, alicerces, motivadores dos personagens principais. E isso pode vir a ser muito problemático. Vamos a um exemplo de um filme bem atual para que você possa ter uma ideia melhor o que quero dizer: a Viúva Negra em Era de Ultron [SPOILERS]



A personagem de Scarllet Johansson, Viúva Negra, é um bom exemplo disso. Além de ser a única mulher do grupo, com exceção da recém-chegada Wanda, a Viúva Negra não tem realmente um papel importante no filme senão o de acalmar o Hulk. Há alguns flashbacks de seu passado, alguma conversa aqui ou ali, mas, se você prestar bem atenção, diferentemente dos outros personagens do filme, o foco de Viúva foi trazer Bruce Banner à sanidade, de dar apoio a um personagem masculino.


Conseguiu seguir o pensamento?

Gostaria de deixar claro que não estou dizendo que é ruim haver personagens de apoio na sua história. Eles têm a sua importância e não há nada de errado nisso. O problema é quando esse papel é, quase sempre, dado a uma personagem feminina.

Com isso, o que quero dizer é que: o primeiro passo para você, cara, escrever uma boa personagem feminina é entender que mulheres podem, sim, ter seus próprios conflitos e seu próprio crescimento, que não precisam ser suportes de outros personagens apenas porque são mulheres.

Tendo isso em mente, vamos avançar.

Nesse momento, gostaria de apresentar alguns outros estereótipos recorrentes e que precisam ser evitados. Se você quer escrever uma boa personagem feminina, há alguns conceitos que você deve conhecer. Não é possível abordar todos, então irei apontar apenas quatro, aqueles que eu imagino serem os mais recorrentes em fics escritas por garotos:


A Personagem Badass (fodona)


Ela é independente. Ela pula do alto de prédios, bate em vinte vilões, deixa qualquer um no chinelo com seus movimentos acrobáticos e seu poder de luta. Ela é uma personagem forte. Sim?

Não necessariamente.

A força de uma personagem não é definida pela quantidade de socos que dá, mas sim pela sua influência na história e crescimento próprio durante a trama.


Personagens fortes são catalizadoras. Elas mudam as circunstâncias, crescem durante a história, têm arcos e conflitos bem-escritos. Socar é muito legal, sim, é. Mas isso, só isso, não faz alguém forte. Não confunda as coisas, se você quer uma personagem badass, faça; mas entenda que somente saber chutar a costela dos inimigos não a faz uma boa personagem. Há inúmeros exemplos de personagens femininas mestres em artes marciais, mas que não possuem absolutamente nenhuma profundidade, o que as torna, muitas vezes, pobres.


Isolamento de mulheres


Garotas podem conversar. Podem trocar ideias. Podem ter um tempo juntas. Não esqueça que mulheres, sim, conversam umas com as outras.

Pois é, às vezes o óbvio precisa ser dito. Algo que é muito recorrente em fanfics, especialmente as escritas por homens, é o isolamento das mulheres. Há personagens femininas na história, mas é como se elas vivessem em cidades, em universos diferentes. Cada uma vivendo em seu mundo, distantes, em seu plot, em sua esfera. Muitas vezes, elas não se conectam amigavelmente com nenhuma outra personagem profundamente durante a trama; mesmo que morem na mesma rua, ficam sempre separadas, longe uma das outras.

Não há motivo algum para fazer isso. Ao escrever sob o ponto de vista de uma mulher, tenha em mente de que, sim, sua personagem pode ser amiga de outras mulheres, que ela vai conversar com outras mulheres e que isso é absolutamente normal. Parece óbvio, mas a quantidade de histórias com personagens femininas isoladas em esferas diferentes é alarmante.

Não interagem e, quando o fazem, o fazem negativamente. O que nos leva a um outro caso.


Ódio entre garotas (girl on girl hate)


Esse estereótipo é muito repercutido em fics de colegial. “A inimiga, a falsiane.” Garotas que tratam mal outras garotas, moças que odeiam outras moças, mulheres que xingam mulheres, falando mal de suas roupas, de seus sapatos... Não há nenhuma necessidade disso. Não há motivo algum para sua personagem odiar outra personagem feminina simplesmente porque “mulheres fazem isso”. Mulheres não fazem isso. Odiar outra garota não é inerente ao gênero feminino.

Um ótimo exemplo disso é quando a personagem está em um relacionamento estável com um garoto, e ele acaba a traindo. Ela, ao invés de tirar satisfação com seu namorado, culpa a outra mulher, que muitas vezes nem sabe que aquele moço estava comprometido. É uma cultura de ódio.

Se você vai fazer duas personagens se odiarem, vá em frente; meu objetivo aqui não é colocar regras em sua história, mas sim fazê-lo entender que, muitas vezes, acabamos reproduzindo situações problemáticas sem percebermos, simplesmente porque estamos acostumados com algo.


Sexualização excessiva e objetificação do corpo feminino


No momento em que Mariana entrou na sala, todos pararam os seus afazeres para admirá-la. Ela era realmente linda. Tinha cabelos loiros extremamente lisos, que desciam até a sua bunda avantajada como uma cachoeira dourada, cintura bem definida, olhos verdes fortes e um belo par de seios que ficaram em evidência naquele vestido vermelho-vinho. Esse conjunto, somado a seu andar sexy e postura imponente, fazia com que cada homem naquele lugar a desejasse.

Acredito que o exemplo seja auto-explicativo. Não nos interessa, aqui, abordar os motivos disso acontecer, mas sim deixar essa situação clara e explicar o porquê dela ser problemática: muitas vezes, os autores dão corpos perfeitos às suas personagens, embelezando-as excessivamente e focando de maneira demasiada nessa beleza durante toda a história, dedicando vários parágrafos exclusivamente à descrição física dessas figuras. Tal descrição excessiva pode (e vai) deixar a leitura da história cansativa, além de perpetuar uma espécie de biotipo ideal.

A coisa se acentua quando a fic é escrita em primeira pessoa. Tenha certeza, meu amigo, que as garotas não dão tanta atenção aos seus seios quanto nós damos. É bom dosar a descrição, para que a leitura de seus textos não se torne enfadonha.

Há vários outros clichês que precisam ser abordados, mas o artigo ficaria um tanto grande e disperso. Para esse tema, é necessário um post exclusivo; post esse que já foi escrito pela nossa querida beta Senhorita Ellie. Se você quer se aprofundar um pouco mais nesse assunto, vou deixar o link no fim deste texto.

Muito bem, agora que já conhecemos algumas situações que podemos evitar (e de ter a oportunidade de conhecer muito mais, lendo o artigo "A Representação Feminina nas Histórias", que citei), iremos abordar algumas situações do universo feminino que podem ser aproveitadas por você (ou que podem servir como aviso).

O que vem a seguir é um bônus; o objetivo do artigo é alertar o autor, fazê-lo enxergar algumas coisas que pode estar fazendo involuntariamente. A partir desse momento, vamos entrar em outro âmbito e apontar um pouquinho certos assuntos que envolvem o universo feminino, de maneira bem rápida.


Menstruação


Um tema pouco abordado, mesmo em histórias escritas por garotas, mas a menstruação é uma parte importante da vida das mulheres e que pode muito bem ser aproveitada na sua história.

Vale, aqui, uma pesquisa maior sobre como funciona o corpo feminino, pois tudo o que darei são algumas dicas bem objetivas. São elas:

Há diversos níveis de cólicas menstruais. Algumas moças sentem mais, outras menos (há quem precise tomar remédios para diminuir as dores);

→ O tempo é muito variável;

→ Absorvente não é confortável, principalmente o que não é OB (o interno), que, aliás, não pode ser esquecido;

→ Absorventes precisam ser trocados de 3-4 horas, e, ao dormir, as garotas utilizam o noturno, que é um tanto diferente. (Não é uma regra, podendo variar de acordo com o corpo e as preferências da mulher.)

Comentários não requisitados:


"Mas você vai sair com essa roupa?"

"Não vai fazer as unhas, não?"

"Amiga, essa roupa tá deixando gorda."

"Você precisa perder uns quilinhos, vai ficar obesa!"

"Que batom é esse, mana?"

"E esse cabelo, vai deixar assim mesmo? Tá um horror."

Meus amigos, acreditem: esses comentários estão muito presentes na vida das mulheres (que podem parecer inofensivos à primeira vista, mas que carregam uma carga muito pesada), bem mais do que imaginamos. Elas são julgadas a todo o instante, e são punidas com essas opiniões não pedidas frequentemente. Não consigo nem imaginar como é viver nessa situação.


A famosa TPM


Sim, as moças ficam mais impacientes (há sangue saindo de suas vaginas e cólicas horríveis estão acontecendo, quem não ficaria?). Mas não é porque estão nesse estado que vão atacar todo o ser humano que aparecer na frente delas ou que passarão o dia chorando assistindo Netflix. Tome cuidado, amigo. É bom evitar aquela antiga ideia de “se a mulher está irritada, deve estar de TPM” (até porque esse pensamento é usado para deslegitimizar ações femininas, o que é bem ruim.)

É importante lembrar também que, na maioria das vezes, essa situação é pouco perceptível. À exceção de casos extremos, onde a moça pede um remédio para dor ou algo do tipo, as pessoas ao redor geralmente não percebem.

Mais algumas pequenas verdades:

→ Seios são assimétricos;

→ Sutiãs podem ser muito desconfortáveis;

→ Saltos doem, especialmente se são longos e finos;

→ Seios grandes são desconfortáveis. Dependendo do tamanho, podem causar problemas de coluna;

→ Há xampus e condicionadores específicos para cada tipo de cabelo, além de óleos para aqueles que ficaram muito secos.


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Por fim, o último conselho que dou é:

Escreva a sua personagem como se ela fosse humana.

E isso vale para todas as personagens, não somente a principal. Moço, lembre que sua personagem pode, sim, ter uma vida fora de um relacionamento. Que ela não precisa ter apenas um foco na vida (mulher que vive em função de um trabalho, por exemplo), que pode, sim, ter seus próprios conflitos, hobbies e desejos. Ela não precisa ser apoio físico e moral de ninguém simplesmente porque é uma garota.

Encare-a como um ser humano e a escreva com paixão. Faça-a ser única, não uma repetição de estereótipos que já são tão disseminados no meio em que vivemos. 

Se você fizer isso, eu te garanto: você conseguiu escrever sob o ponto de vista de uma mulher.

E, afinal, não era esse o objetivo?



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A Representação Feminina nas Histórias:

Parte 2:
Referências:
Agradecimentos especiais à Giulia Correia, à Iamela Freitas e à Yasmin Bom. Muito obrigado, gatas, me ajudaram demais!

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Como desencalhar fanfics de uma cena chata

terça-feira, 5 de abril de 2016


Escrito por: Estrela de Rubi 



Eufóricas saudações! 



É a minha primeira contribuição no blogue, me desejem sorte.

Este post é para aqueles que estão destruindo o computador de pancada ou jogando folhas repletas de palavras vãs no lixo só porque sua história está encalhada numa cena chata. 

Pois é, caros autores, uma história é um labirinto que nós próprios criamos e que, se não tivermos cuidado, podemos acabar nos perdendo nele. Hoje estou aqui para ajudá-los a encontrar o melhor caminho para sair desse labirinto.

Acabaram de escrever uma cena chata e não sabem o que fazer?

Bom, primeiro vamos à solução mais simples:


Eliminá-la! 


Sim, estou falando sério. Por mais que vocês tenham imaginado essa cena há décadas, por mais que tenham partido a cabeça tentando elaborá-la, digam-lhe adeus. Mas esperem! Não façam isso de forma leviana. Primeiro, vocês têm que responder a estas três perguntinhas básicas: 


— A cena apresenta uma nova perspectiva sobre o personagem, isto é, revela algum caracter inédito de um dos personagens?
— A cena faz avançar a história para o cerne do enredo principal?
— A cena transmite alguma emoção cômica ou dramática? 


Se vocês responderam “Não!” a pelo menos duas dessas três perguntas, então gente, lamento, mas essa cena não vai sobreviver ao ânimo dos seus leitores. Sim, eles morrerão de tédio. É chegada a hora de vocês eliminarem essa parte, porque mais vale matarmos uma cena do que matarmos a história inteira. 

Se, pelo contrário, vocês responderam “Sim!” a duas dessas três questões, então parabéns, estão no caminho certo! É tempo de arregaçarmos as mangas e encararmos o problema de frente. Pois é, vamos fazer magia para tornar a cena chata numa cena dinâmica. Ela demonstra ser fundamental para a história e vocês terão de a manter viva. 

É necessário imprimir transformação na cena para dinamizá-la e fortalecê-la.



Mas como fazer isso sem arrancar os cabelos? 



Simples, nós, os autores, temos a faca e o queijo na mão. Podemos mexer com as emoções dos leitores apenas com poucas palavras, que, bem colocadas, fazem uma cena parecer viva, palpável, quase real.

Antes de mais, devemos planejar a cena antes de escrevê-la, esquematizando-a por passos, onde deverão ter em conta:



— o objetivo de cada personagem;
— o que o personagem obterá no final;
— estado de espírito do personagem no início e no final;
— quais as pequenas revelações na história;
— avaliar o nível de tensão antes e depois da cena.


Toda a cena deve conter esses pontos para que fique com lógica e se insira convenientemente no enredo. Com estes objetivos delineados, a nossa tarefa fica muito mais facilitada. 

Então, chegou a hora de acorrentarmos os nossos leitores à cena “chata” para que eles, no final de cada página, sintam uma vontade irresistível de ler a seguinte. Chegou o momento de lançarmos a nossa teia de palavras, o nosso labirinto de emoções para que eles se percam no vício da leitura. 


E isso é muito fácil! 



Primeiro, vocês terão de decidir se querem que a cena cause impacto ou suspense



— Para causar impacto, escrevam o cerne da cena logo de início, isto é, escrevam o ponto alto da cena e só depois explorem a tomada de abertura, o cenário, a reação e as consequências desse ponto alto. Por exemplo, “— Pai, eu estou grávida! — revelou com voz trêmula. Louise estava de pé, de frente para o senhor Laércio que lia o jornal sentado no sofá.” 

— Para causar suspense, explorem primeiro o fluxo emocional da cena, descrevam o cenário, os sentimentos do personagem, os seus gestos e só depois, lancem o ponto alto da cena, ou seja, preparem o leitor antes de jogar o ponto alto em cima dele. “Louise, torcendo as mãos de nervosismo, deteve-se de frente para o senhor Laércio que lia o jornal sentado no sofá. — Pai, eu estou grávida — revelou com voz trêmula.” 



Para mim, tanto o suspense quanto o impacto são excelentes formas de cativar o leitor, mas só vocês poderão escolher o que se adapta melhor à sua cena. 

Independentemente da forma como querem expô-la, o fundamental é torná-la dinâmica e para isso devem ter em conta:



Abreviar a cena o mais possível. Não mastiguem muito a cena, mas também não a lancem numa só tacada. Encontrem um meio-termo. 

Fujam das cenas planas, previsíveis. Nunca se esqueçam, as surpresas são as suas melhores amigas.

— Descrevam a cena numa perspectiva mais ampla, de maior importância para o enredo. Tentem não descrever todos os detalhes para não cansar o leitor.

— Adicionem algum ruído para além dos diálogos, por exemplo “escutam-se passos”, “o vento uiva”. Isto ajuda a transportar o leitor para dentro da história.

— Deem cor às cenas para enfatizar as emoções. Por exemplo, se for uma cena de conflito, utilizem frases como “o lugar estava envolvido na penumbra”; se for uma cena de felicidade, paz, conforto, usem frases como “o sol brilhava quente naquela manhã”. 

— Adicionem pequenas ações entre os diálogos, por exemplo, “O chefe, irado, inclina-se sobre o empregado que o olha assustado — Você está despedido!” 

Descrevam o ambiente, o cenário da cena. Expliquem brevemente onde os personagens se encontram, por exemplo “Estava frio naquele porão coberto de pó e de teias de aranha”. 

Nunca comecem nem terminem o capítulo/história com uma cena que vocês considerem secundária ao enredo.

Não utilizem muitos adjetivos nem muitos diálogos filosóficos. 

— Se for possível, intercalem a cena com outra mais emotiva, mais tensa.

Transmitam as emoções/sensações dos personagens, por exemplo “Um calafrio percorreu todo o seu corpo”. 




Estas são algumas características que devem dominar para que a cena deixe de ser chata e passe a ser uma das mais fortes, intensas e dinâmicas da história. E nunca se esqueçam, revisem o texto várias vezes para cortar qualquer coisa que não contribua diretamente para a evolução da trama.



Mais vale matar uma cena do que matar a história inteira.




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Biblio/webgrafia:

NASCIMENTO, N.; PINTO, Castro J. – “A dinâmica da escrita: como escrever com êxito” [4ºedição], Plátano, 2005

Agradecimentos: 

Um agradecimento especial a Mya Zurck que me auxiliou a desenvolver este artigo. 



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Recomendações de Leitura Dia da Mulher [04/04]

sábado, 2 de abril de 2016



Ohayo! Elyon Somniare volta a pegar no leme! Espero que estejam a gostar das nossas recomendações até ao momento, e que a vossa lista de livros tenha crescido, mwahahah. Mas não apenas isso, espero que tenham também recomendações a deixar nos comentários. Como é óbvio, há uma variedade de factores que leva a que seja impossível listar todos os livros (e fics/fanfics) que merecem recomendação, contudo, fazem-se os possíveis. Não tenham vergonha em partilhar aquele livro ou fic maravilhoso que trata ou apresenta as personagens femininas de forma incrível.

Pelo entretanto, chegou a hora da recomendação das leituras à distância de um clique no Nyah!


“Trato Desfeito”, Mrs Days
(Rodrigo Caetano)

Uma história sobre uma forte mulher que viveu durante séculos entre o céu e o inferno, presa por um acordo que envolvia tanto a sua vida como a sua alma. Essa história é um poderoso conto de ação, não recomendado aos menores de dezoito anos, com uma forte personagem feminina, que não deixa nada a desejar quando comparada com os grandes heróis clássicos. Ela atira primeiro e pergunta depois, sem perder o charme e a sexualidade. Quem disse que as meninas não sabem botar para quebrar? 


“Minh’alma perdida nas curvas do teu cabelo”, Salow
(Enrique Buendía)

Há várias razões pra essa fic ser lida: além da personagem principal ser escrava, negra e ter sentimentos pela sua senhora, tirando a situação que ela vive com o seu dono, a personagem tem o seu nome ocultado como se de fato – acontece várias vezes – nada daquilo importasse em si. A personagem feminina, além disso, é guiada por duas orixás mulheres, Iemanjá e Iansã, trazendo também a cultura afro-brasileiro para dentro da fic, que possui personagens marcantes com situações bem reflexivas.


“Delilah”, Holly Hobbie
(Rodrigo Caetano)

Uma songfic que merece essa classificação: essa é uma one-shot linda de um amor bonito, inspirada pela música de mesmo título da banda Florence and the Machine. Uma história bem escrita do início ao fim, por uma autora com grande sensibilidade, contando sobre a descoberta da homossexualidade e do amor entre duas meninas. “Delilah” é um conto delicado, mas que merece atenção nesse mês tão especial.


“A Mhaighdean Bhan Uasal”, Giulia Correia
(Enrique Buendía)

A fic possui uma protagonista incrivelmente forte e que me fez suspirar ao imaginá-la. O que eu posso dizer dessa protagonista foi aquilo que eu comentei na história: uma mulher forte, com coragem de abondar tudo o que havia construído, e ainda tem mais a questão do que se procede após o abandono, a autora trabalha num ambiente bem no passado, onde havia o culto à Deusa, uma divindade superior feminina, o que também torna mais interessante, principalmente para pesquisas sobre uma sociedade que funcionava com uma deusa mulher.


“Ocean Eyes”, Julliet
(Rodrigo Caetano)

Uma história de amor inspiradas por ótimas músicas do Owl City, todas contidas em um álbum que compartilha o título com a história. A fanfic em si pode ser considerada uma songfic, mas cada um dos capítulos retrata perfeitamente uma música do álbum. É difícil encontrar songfics que conversem tão bem com suas músicas. Mais difícil ainda é encontrar uma história que converse tão bem com cada uma das músicas escolhidas para inspirar os capítulos. É uma bonita história de uma jovem mulher à procura de si mesma — e de um amor há muito perdido — tirado dela por aquilo que ela mais amava na vida: o mar.


“Da Feminilidade do Ser”, Elyon Somniare
(Enrique Buendía)

Uma fic marcante que traz drabbles sobre mulheres histórias, como Cleópatra, Ana Bolena e Inês de Castro. A escrita da autora chama a atenção pelos episódios narrados, e as pequenas narrativas sobre as mulheres causam reflexões acerca daquilo que elas foram para o tempo delas e como elas se comportam em suas sociedades de séculos passados. Enfim, a quebra daquilo que é considerado ser feminino é tão forte que nos faz pensar sobre a própria feminilidade do ser.


“La Dama y el Paraguas e outras histórias de morte”, Ganimedes
(Elyon Somniare)

Uma história formada por histórias diferentes que criam um ciclo entre si. Com uma narração excepcional, podemos encontrar exactamente aquilo que o título levanta: histórias de morte, sendo a da “dama y el paraguas” (guarda-chuva) a principal razão para incluir esta recomendação. Não julguem que por serem “de morte” as histórias são de terror. O único terror é aquele que advém da contemporaneidade de todos os elementos que a narração utiliza e dos temas que nos leva a considerar.


Não deixem, então, de dar uma olhada nestes links, ou de deixar outros nos comentários! But now, lembram-se de no primeiro post destas recomendações eu ter falado duma surpresa? Pois é que nem só de ler vivem a mulher e o homem, ahah! Eis a nossa última recomendação: o cartoon “Steven Universe”, escrito pela, já nas palavras da beta Giulia Correia, “lindíssima Rebecca Sugar, diva, destruidora de corações, queen of hiatus”:

“Steven Universe”, Rebecca Sugar
(Giulia Correia)

É um cartoon infantil sobre um garoto que tem poderes. Mas não se engane sobre a aparência de clichê, de desenho pra crianças, de mais do mesmo. Não! Não tem nada disso. Bem, tem clichê, mas o que não tem, hoje em dia? “Steven Universe” tem mais que isso, tem rochas lésbicas espaciais, guerras antigas e templos maneiros.

Ainda não se animou? O desenho tem uma animação amorzinho com cenários incríveis, tem músicas maravilhosas que pisam nas músicas de Phineas e Ferb e, mais, tem uma progressão na história, um foreshadowing, uns plot twists…! É uma história digna de todos os louros, prometo.

Mas assim, por que eu tô falando sobre ela no dia da mulher, se é sobre um garoto com poderes? Bem, por causa das muitas mulheres da trama. É uma lista bem grande. Temos a Garnet, a Pearl, a Amethyst, a Connie, a Rose, a Peridot… e todas essas personagens, elas são badass de maneiras diferentes.

A Garnet esmaga e canta Stronger than you. A Pearl é super inteligente, super organizada e, se você a acompanhar pela trama, percebe que tem muito mais nela do que isso. A Amethyst é uma personagem que começa nhé, mas se desenvolve de uma maneira muito maneira com o correr dos episódios. A Connie, nossa, nem vou falar sobre ela por motivos de spoilers, mas nossa. Nossa.

Se eu falar sobre as outras darei spoilers, mas só queria deixar registrado que são ótimas também. É um cartoon que trama muito bem suas personagens femininas, o que é super raro. É também um cartoon com diversidade de corpo, de família, de orientação. Recomendo assistir. Se não pela diversidade, pela história, que é maravilhosa.
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