Como escrever cenas de esporte

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Por Bonnie Wolff
Você decidiu escrever sua história. Abre seu computador no Word ou pega um papel e caneta. E então, inesperadamente, você é obrigado a parar a produção de seu capítulo. O motivo? Uma cena que você não faz ideia de como escrever.
Dentre as mais problemáticas — algumas que até viraram tema de artigo aqui no blog — está a cena de esporte. Em uma cena dessas, o narrador precisa trabalhar com diversos aspectos diferentes. Por conta disso, tende a ser um pouco mais desafiador.
Para começo de conversa, é necessário que se entenda que uma cena de esporte precisa ser escrita como qualquer outra cena em que a descrição dos movimentos e ações físicas são importantes — como em uma cena de luta, de dança, de perseguição, etc.
Para que não haja desespero na hora de escrever um jogo de futebol ou uma competição de basquete, reuni algumas dicas que vão ajudar na hora da escrita.
  1. Pesquisa
Se quiser escrever sobre um determinado assunto, é preciso conhecê-lo e dominá-lo. Se não conhece, então pesquise. E pesquise bem. Isso não é diferente na hora de narrar uma partida de algum esporte. É preciso conhecer desde as regras básicas até a função de cada jogador e as melhores táticas no esporte. Se não, é capaz de acabar escrevendo que houve uma falta no meio de campo e isso acarretou em um pênalti. Quê?! Como assim?! Todo mundo sabe que o pênalti é uma falta de tiro direto cometido pela defesa dentro da sua área. Que vacilo do senhor escritor, não é? E são esses erros que contam para o leitor que, muitas vezes, desanima de ler.
Seu comprometimento na escrita está diretamente ligado à quantidade de pesquisa que você faz. Acalme-se, senhor escritor. Não estou dizendo que é preciso se tornar uma enciclopédia do esporte. Depende do que quer escrever. A quantidade de conhecimento necessária para escrever uma simples pelada entre amigos é diferente da necessária para escrever um jogo de um campeonato nacional. É necessário que o escritor reconheça o que é fundamental para sua narração.

  1. Ambientação
Aquele que pensa que o ambiente não é importante em qualquer narração está completamente enganado. Existe uma ambientação adequada para cada cena de esporte que alguém pense em escrever e é preciso saber disso, pois pode ditar o ritmo da narrativa. Afinal, escrever sobre um jogo treino é diferente de escrever sobre a final de um campeonato. Um jogo treino será feito em uma quadra de um dos times; um lugar mais calmo, sem muita movimentação. Uma final de campeonato será num estádio lotado de torcedores, gritaria e uma quadra com as medidas certas; algo muito mais sério e que deve ser retratado como tal.

  1. Personagem
Agora é hora de se preocupar um pouco mais com a sua personagem. Se for uma personagem humana, então ela tem um limite. E é preciso saber qual é esse limite. O que eu quero dizer com isso? Simples: até onde vai o conhecimento do seu personagem por aquele esporte? Até onde vai o amor dele? Tudo isso é importante para sua escrita. Se seu personagem é um torcedor fanático, ele saberá o nome de todos os jogadores, xingará o técnico, o juiz o mundo, vibrará como nunca. Se ele não for tão fanático assim, se ele nem gostar do jogo e só tiver acompanhando alguém, ele provavelmente não sabe nada sobre as regras do jogo ou sabe o mínimo, então a narrativa dele será diferente.
Mas e se meu personagem for o jogador? Elementar, senhor escritor. Algumas perguntas irão mudar, outras serão acrescentadas, mas o limite humano continuará o mesmo. Você precisa saber o limite das habilidades do seu jogador. O que eu quero dizer com isso? Veja bem, se o seu jogador é um humano normal e não for um Midorima (do mangá Kuroko no Basket), ele provavelmente não conseguirá jogar uma bola de basquete de 650g de um canto ao outro de uma quadra e ainda acertar a cesta. Porque não é humano. E é mais ou menos isso que quero dizer. É preciso entender o limite da estamina do seu personagem. Quem joga videogame já ouviu essa palavra, não é? Para quem não sabe, estamina é a resistência; a capacidade de um humano ou animal para exercer exercícios aeróbicos por períodos relativamente longos de tempo. Para narrar fidedignamente um jogo, você precisa saber se as habilidades de seu personagem se igualam a um jogador profissional, um jogador com algum treinamento ou um amador. E, é claro, adequar à faixa etária dele (um adolescente normal provavelmente não conseguirá correr os 90 minutos de uma partida de futebol e não se sentir exausto no fim, assim como um homem de 50 anos com problema no joelho).

  1. Narrativa
A narrativa, em si, pode ser separada em dois quesitos importantes: quem narra e o quê narrar.
O primeiro, nada mais é que o ponto de vista da narração. Se o narrador é um dos jogadores do jogo, ele vai por em foco os seus próprios movimentos — sua corrida, suas decisões, o jeito como a bola veio para ele —, e retratará o que é importante para ele. Se o narrador é um torcedor, o foco dele provavelmente será os movimentos da bola, a gritaria da platéia, o amigo ao se lado, etc. Se for o técnico de um time, será uma narração muito mais técnica.
O que escrever é algo um pouco mais complicado. Toda ação física é como outra ação qualquer; tendo seu início, meio e fim. Há surpresas, contratempos, algo que pode mudar o rumo de tudo. Não é preciso escrever cada passo ou movimento, mas apenas aqueles que marquem momentos importantes na cena. Por exemplo, se o protagonista, depois de driblar os marcadores, está prestes a chutar para o gol e é derrubado pelo carrinho de um jogador mal intencionado, isso deve ser descrito. Uma sugestão pra quem está começando é assistir a jogos com atenção e tentar narrá-los em sua cabeça; ou então ouvir atentamente ao narrador de um jogo (na TV ou no rádio, mas eu sugiro o do rádio), pois o trabalho desse narrador é o de ser os olhos do ouvinte, o que pode ajudar você a trabalhar uma cena em sua mente e imaginá-la. Também, o jeito dele narrar, as palavras e “gírias” podem te ajudar a escrever.

Essas são algumas dicas que me ajudaram e ajudaram alguns escritores com quem conversei (e aqui deixo a eles o meu agradecimento) sobre este assunto. Eu não encontrei nenhum outro artigo parecido em minha pesquisa, então espero que eu tenha ajudado pelo menos alguns de vocês.

Escrever cenas de esporte pode parecer um bicho de sete cabeças, mas, como qualquer outra cena, praticar ajuda a melhorar. Por isso, não desistam.

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