Gêneros Polêmicos (03/03)

segunda-feira, 27 de julho de 2015


Por: Anne L


Atenção: Este post tratará de temas polêmicos, rejeitados pela sociedade como um todo por ofenderem a moral, os bons costumes, algumas religiões e, em alguns casos, até a lei vigente de um país. Se o assunto incomodar você de alguma forma, não leia.

Levou uma vida e meia, mas eu voltei, rs. Vamos aos últimos gêneros.

5. Canibalismo – Acho que todo mundo sabe o que é, mas vamos à definição assim mesmo (do dicionário Priberam):

ca·ni·ba·lis·mo 
(canibal + -ismo)

substantivo masculino
1. Qualidade ou hábito de pessoa ou de grupo humano que come carne humana. = ANDROFAGIA, ANTROPOFAGIA
2. [Ecologia]  Qualidade ou hábito de um animal comer carne de outro animal da mesma espécie.

Há ainda outros significados, mas os importantes para as histórias são esses.
Considero este item um dos mais palpáveis da lista, ainda mais num mundo pós-Hannibal, que popularizou tanto esse termo (por causa do apelido “Hannibal the Cannibal”) quanto “psicopatia” e que familiarizou muita gente com ele através dos livros, filmes e, recentemente, do seriado. A abordagem que fizeram neste último, aliás, é bem interessante de se analisar. O transtorno de personalidade antissocial (não, não se diz “psicopatia”) do personagem-título faz com que ele enxergue as pessoas não como seres humanos exatamente, mas como presas. Matar alguém e arrancar seus pulmões porque surgiu a vontade de cozinhar um prato com esses órgãos não é muito diferente de ir a um açougue e comprar a carne de algum animal.
Particularmente, gosto dessa naturalidade como ele trata o ato, como se não fosse nada de mais. Hannibal passa horas criando os pratos mais refinados e elaborados com os frutos de seus crimes e diverte-se servindo-os para seus amigos e colegas. Ele tem consciência do que é certo e do que é errado, porém age de acordo com seus desejos. Como muitos serial killers, é um personagem tão complexo e profundo que eu poderia passar horas falando sobre ele, mas ainda temos 3 gêneros pela frente, então, paro com “Hannibal” por aqui.
Outra faceta do canibalismo vem com os costumes de algumas tribos, por exemplo, nas quais esse ato ocorria como forma de se absorver as virtudes dos mortos. Às vezes, a pessoa pedia em vida que sua carne fosse devorada por alguém da tribo, uma honra sem tamanho. Ao ingerir parte de outro membro da tribo, você poderia ganhar a força dele, a inteligência, a virilidade. É uma perspectiva interessante para usar em uma história, além de fugir daquela coisa de serial killer que, especialmente nos últimos 10 anos, tem sido recorrente na mídia. Não me lembro de já ter visto muitas assim no Nyah!.
Um terceiro caso é o do canibalismo motivado pela sobrevivência. Por exemplo: se um avião cair em uma região muito fria e longe da civilização, deixando como única opção de sustento comer a carne das pessoas que já morreram (ou que ainda estão vivas, se você quiser trabalhar com a questão da loucura e do instinto de sobrevivência, que levam alguém “bom” e “comum” a cometer um assassinato por conta das circunstâncias).
Existem muitas possibilidades. O que importa é o autor estar disposto a pesquisar, construir e desenvolver seus personagens de modo que, caso ele venha a praticar o canibalismo, fique plausível. Para quem quiser ler um pouco mais sobre os serial killers que faziam isso (esse tipo de personagem é um dos mais difíceis de fazer, na minha opinião), no final do post, tem o link de um site de que eu gosto bastante.

6. BDSM – É um acrônimo para “bondage e disciplina, dominação e submissão, sadismo e masoquismo”. Não tem nada a ver com violência doméstica e/ou estupro, gente, tirem isso da cabeça. Também não considero “50 Tons de Cinza” uma boa fonte de informação sobre o assunto (ou sobre qualquer coisa na vida, mas enfim), então, não usarei a trilogia de base. Apesar dos pesares, foi ela que popularizou BDSM nos últimos tempos, portanto, pelo menos, darei esse crédito à autora.
A chave para se trabalhar com esse gênero é pensar que tudo o que ocorre entre os praticantes é consensual. É preciso certo grau de confiança para você aceitar que seu parceiro amarre alguma parte do seu corpo, por exemplo (bondage), sabendo que ele não vai machucá-lo e que, no fim das contas, tudo o que fizerem será para o prazer de ambos. E essa confiança deve ser mútua.
É nessa parte que vejo muitas fics falhando, “ampliando” as regras dessa prática ou mesmo ignorando-as totalmente para dar um tom mais sexy ou mais pessoal à história. Porque não tem nada mais sexy que alguém insistindo em fazer algo com você apesar dos seus protestos para a pessoa parar, certo? Errado. Tudo errado. Erradíssimo. Muito cuidado aqui para não transformar sua história linda com BDSM em um caso estranho de romantização de estupro e violência doméstica. Eu não diria que a linha entre as duas partes é tênue, mas já vi que muitas pessoas são incapazes de ver qualquer linha quando o assunto é fic. Vocês já estão cansados de saber, porém, que o que pode diferenciar seu texto lindo de uma representação pavorosa da comunidade BDSM é a pesquisa. Basta ler relatos, ver como funciona, descobrir até mesmo as definições de cada área certinho, e você vai se sair bem.

7. Necrofilia e Zoofilia – Para começar, as definições:

ne·cro·fi·li·a 
(necro- + -filia)

substantivo feminino
[Psicopatologia]  Perversão sexual que procura a sua satisfação nos cadáveres.

zo·o·fi·li·a 
(zoo- + -filia)

substantivo feminino
1. Gosto de animais.
2. Qualidade de quem é zoófilo.


“Ai, Anne, que horrorosa você, colocou os dois juntos porque são a mesma coisa?!” Não, nada disso. Só ler as definições para ver que não são a mesma coisa. A razão para eu falar de ambos ao mesmo tempo é que, o “ato”, propriamente dito, se dá de maneira similar: através do estupro. Animais não podem se defender de um ataque desses (alguns até podem, mas acho improvável que o praticante procure um leão para fazer isso ou coisa assim), muito menos cadáveres (a não ser que sua fic tenha uma pegada de fantasia e o morto vá se vingar depois ou algo do tipo).
Acho a parte mais tensa dos gêneros polêmicos, porque me parecem os mais difíceis de se dobrar para algo que o leitor possa considerar legal ou mesmo interessante. Envolve muito desenvolvimento emocional e psicológico dos personagens e um esforço para que, ainda que errada, a atitude deles seja convincente. Às vezes, o foco pode ser a luta contra essas vontades, como a vida da pessoa é afetada por isso, seus relacionamentos, seu emprego, etc. Talvez ela não entenda por que se sente assim ou o contrário, entende, sabe que é errado e não consegue evitar. Dá para escrever uma long inteira só com base nisso. Porém, nada o impede, é claro, de criar um personagem que simplesmente tenha uma tara por cadáveres ou animais e que procure satisfazer os próprios desejos sem tratar essas parafilias com muita profundidade. Depende da proposta da história.


O objetivo do post, naturalmente, não foi escrever um artigo acadêmico sobre cada gênero (o que eu pensei que fosse óbvio, porém, alguns comentários me levaram a ressaltar isso aqui), mas falar um pouco sobre cada um e mostrar as definições para quem estava perdido com tanto nome estranho e confundindo shotacon com zoofilia, e assim por diante. Se vocês quiserem que a gente se aprofunde em algum, basta pedir nos comentários.
Apesar da polêmica, são todos gêneros muito legais e complexos para se usar nas histórias, podendo até servir como o diferencial delas, caso você trabalhe bem com o assunto. E essa parte eu já expliquei diversas vezes, não é? Basta fazer muita, muita, muita pesquisa e desenvolver bem o lado psicológico dos personagens.



Links: "canibalismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/canibalismo [consultado em 20-07-2015].

Site sobre canibalismo/serial killers http://oaprendizverde.com.br/tag/canibalismo/ [consultado em 20-07-2015]


"necrofilia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/necrofilia [consultado em 20-07-2015].

"zoofilia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/zoofilia [consultado em 20-07-2015].

Entrevista com a moderadora Kaline Bogard, que é psicóloga.




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