Por Ana Coelho
Olá a todos! Como vão? Espero que esteja tudo ótimo com vocês!
Afinal, vocês sabem pontuar diálogos corretamente ou não? Sabem
onde devem aparecer os pontos finais, as vírgulas, as maiúsculas…?
Usam aspas ou travessão? E que tipo de aspas? E, afinal, como podem
inserir o símbolo do travessão no texto?
Pois é, essas são algumas das questões mais frequentes que eu
espero que fiquem esclarecidas quando este post chegar ao fim!
Vamos saltar já para a primeira parte:
Aspas ou travessão? Afinal, qual é a diferença?
Na verdade, podem pontuar como quiserem. Quer escrevam com um, quer
escrevam com o outro sinal de pontuação, a escolha é vossa.
Lembrem-se apenas de optar por um ou pelo outro
ao longo de toda a história ou poderão confundir os vossos
leitores. Decidam qual opção querem e mantenham-na até o final,
porque misturarem as duas já é errado.
Mas… como é que é possível que haja duas opções? De onde
saiu isso?
Reza a lenda que, tradicionalmente, em português, se deve usar o
travessão para marcar diálogos. (O travessão é esse sinal “ —
“ . No final do post eu explico como o podem arranjar.) Aliás, nem
as aspas tradicionais do português são iguais àquelas que estão
habituados a ver por aí. As aspas tradicionais (e que ainda
aprendemos a usar em Portugal, apesar de pouco se falar no assunto)
são as típicas das línguas latinas, as retas ( « » ).
No entanto, com o tempo, isso tem vindo a mudar. No Brasil é muito
mais usual usarem-se as aspas curvas (“essas”), nem
há teclas próprias para as aspas retas duplas como há nos teclados
portugueses. Apesar de tudo, em Portugal também se tem passado a
usar muito mais as aspas curvas duplas. Parece que elas estão cá
para ficar, quer as usemos nos diálogos quer não.
Teclado
de Portugal, com a tecla das aspas duplas retas assinalada. Ela
existe, mas é bastante ignorada.
De facto, a história das aspas é curiosa e há vários tipos
diferentes usados em línguas diferentes. Há aspas retas duplas ( «
» ) ou simples ( ‹ › ), e há aspas curvas diferentes, como ( “
” ), ( ‘’ ’’ ), ( ‘ ’ ) ou ( ”
“ ), entre muitos mais tipos. Tudo depende da língua em que se
está a escrever ou até do país de onde vem o texto. Aconselho-vos
a verificarem a página da wikipédia que fala do assunto para mais
esclarecimentos
e podem até investigar por conta própria, se continuarem curiosos.
Mas, se é
assim, então quais são as diferenças de se usar o travessão ou as
aspas? Têm regras diferentes?
Como eu já expliquei anteriormente, nas línguas latinas o usual é
usarem-se as aspas retas, mas as aspas usadas nos diálogos por aqui,
hoje em dia, são as curvas (“essas”). E as regra são
ligeiramente diferentes.
Isso acontece porque a forma de pontuar diálogos com aspas curvas
também não é nossa, dos países com língua latina. Essa forma de
escrever diálogos foi adquirida por influências de outras línguas
onde essa é a forma predominante. Hoje em dia também é aceite
(/aceita, em português do Brasil) na língua portuguesa e é por
isso que as aspas são uma opção válida que podem considerar
quando escreverem as vossas histórias.
Convém ressaltar que este texto tem em conta a pontuação em inglês
americano, já que é seguindo essa norma que as aspas duplas são
usadas, e que o inglês britânico tem regras de pontuação
próprias, que explicarei por alto no final do texto.
Aconselho-vos a escolherem a forma que vos deixar mais confortáveis,
juntamente com as regras correspondentes.
Mas vamos avançar e vamos falar logo dessas regras! Elas são
fáceis, vocês vão ver.
Vamos começar com uma questão simples:
Sabem quando devem usar
letra maiúscula ou minúscula?
Esse é o erro que eu mais vejo no Nyah!, quer pontuem os textos com
aspas quer os pontuem com travessão. Apesar disso, e contrariamente
ao que pode parecer, a solução é bem simples.
Nos diálogos, as regras mais importantes dependem do texto. Isso
quer dizer que, dependendo daquilo que escreverem junto com a fala, a
letra ou será maiúscula ou será minúscula.
Mas daqui a pouco eu entro em mais detalhe sobre isso. Para já,
vamos começar com os exemplos sem grandes acessórios!
— Gosto de bolo.
~~
“Gosto de bolo.”
Pronto, aí temos uma frase bem simples, pontuada das duas formas
mais usuais. E quem não gosta de bolo?
Nessa frase, duvido que haja dúvidas na pontuação. É só colocar
a fala a seguir a um travessão ou dentro de aspas, com letra
maiúscula no início e ponto no final. Sem problemas aqui.
Mas assim não sabemos quem falou, ou como a fala foi dita, ou em que
circunstâncias se desenrolou esse diálogo. Nas nossas histórias,
costumamos ter muita coisa a dizer sobre as falas. E como fazemos
nesses casos? Como fazemos se quisermos transmitir uma ideia com mais
pormenores, como “O Pedro disse que gosta de bolo”? Como e onde
colocamos esse “disse o Pedro”?
Comecemos pela forma mais simples e mais usual — depois da fala,
na parte final da frase.
Exemplos A.
— Queres um sapato? — perguntou a Joana.
~~
“Queres um sapato?” perguntou a Joana.
Pois bem, sim, pode parecer-vos estranho, e o Word pode até sugerir
que façam aí uma mudança drástica, mas essas duas frases estão
bem pontuadas e bem escritas. Comecei de imediato com frases com
pontos de interrogação porque quero que entendam uma coisa
importante: na pontuação dos diálogos, o que conta realmente é o
verbo que acompanha as falas. Mais nada.
Vamos comparar estas com as seguintes.
Exemplos B.
— Queres um sapato? — A Joana esticou um dedo e apontou para
os seus pés.
~~
“Queres um sapato?” A Joana esticou um dedo e apontou para os
seus pés.
Conseguem ver o que há de diferente dos exemplos A para os B? Nos A,
depois da pergunta, havia letra minúscula. Nos B, depois de
escrevermos exatamente a mesma pergunta, surge uma frase com letra
maiúscula. Então os exemplos A estão certos e os exemplos B estão
errados? Não. Então são os B certos e os A errados? Também não.
Ambos os exemplos estão certos.
Eu disse ainda há pouco que o que diferenciava a pontuação do
diálogo era o verbo que acompanhava a fala, certo? Vamos lá olhar
para os verbos. E não se preocupem, não há nada gramatical aqui.
Nos exemplos A, o verbo era “perguntar”. Nos exemplos B, os
verbos são “esticar” e “apontar”. Conseguem ver aqui a
solução?
Pois, a verdade é que, para se descrever uma fala, nós usamos
verbos que exprimem essa ideia de falar. Verbos como “dizer”,
“perguntar”, “berrar”, “inquirir”, mesmo que seja através
de metáforas (“chutar”: “— Gostas da Mariana? — chutou o
Pedrinho.”). Todos os verbos que descrevam o ato de falar e
que estejam diretamente ligados à fala têm de vir ligados a essa
fala. Essa ligação é expressa através da letra minúscula, que
indica que a ideia da fala ainda continua na narração, que uma
complementa a outra.
E agora reparem nos exemplos B. Os verbos “esticar” e “apontar”
referem-se à fala? Não, claro que não. Referem-se a duas ações
que a Joana fez, imediatamente a seguir a ter falado. Então isso
quer dizer que temos duas ideias diferentes e que não há um verbo
de fala que una diretamente a linha do diálogo à narração. Dessa
forma, temos de usar letra maiúscula.
Deixo aqui mais exemplos, para irem percebendo melhor. E vou apenas
usar pontos de exclamação e de interrogação.
— Gostas de chocolate? — questionou a Madalena.
— Gostavas de dançar comigo? — O olhar de Rodrigo era
sincero.
— Tu és louco! Afasta-te de mim! — berrou o João.
— Sou alérgica a chocolate! — A Rita afastou-se do bolo sobre
a mesa.
“Gostas de gatos?” inquiriu o Pedro.
“Tenho um enorme gato preto chamado Chinelo!” O Ricardo
sorriu ao relembrar as patas fofas do seu Chinelito.
“Não gosto nada de ti!” exclamou a Bárbara.
“Detesto baratas!” A Marina fugiu para a cozinha.
Perceberam até aqui tudo?
Quando o verbo descreve a fala (são chamados verbos dicendi
universalmente), o verbo vem com letra pequena, unindo a narração
ao que foi dito. Quando o verbo descreve uma ação paralela ou
seguida à fala, então passamos a ter duas ideias diferentes e a
letra que vem depois do ponto é maiúscula.
Nesta altura devem estar a perguntar-se por que só optei por usar
frases com pontos de interrogação e de exclamação. A minha
intenção era que entendessem e não se voltassem a esquecer de que,
nos diálogos, é o verbo quem manda e o resto só lhe obedece. É
uma ideia bem simples e é ela que rege todas as outras regras.
Tendo isso em mente, vamos agora ver o que acontece em frases mais
comuns, frases que tenham pontos finais. Aqui as coisas tornam-se
diferentes para o travessão e para as aspas, mas vamos avançar por
um de cada vez.
Acho que o melhor é dar um exemplo para vocês poderem pensar e
analisar a explicação em seguida.
— Não gosto de cães — disse o Ricardo.
— Não gosto de gatos. — O Ricardo afastou-se do animal.
— Tenho pena de ti. — O tom da voz de Madalena era de pura
compaixão.
Analisemos estes exemplos. Como podem ver, a letra maiúscula ou
minúscula ainda está dependente do tipo de verbo. “Dizer” é um
verbo de fala, então vem com letra pequenina. “Afastar-se” e
“ser” são verbos que descrevem ações e não se aplicam
diretamente sobre a fala, mesmo que indiretamente falem dela, como
acontece no terceiro exemplo. Nesses últimos dois casos, usou-se
letra maiúscula.
Conseguem reparar agora na outra diferença entre o primeiro caso e
os outros dois? No primeiro não há ponto final, mas nos outros há.
Percebem porque usei apenas pontos de exclamação e de interrogação
há bocado, certo? Porque as regras são diferentes para um e para o
outro tipo de ponto.
Podemos dizer que, em certos casos, os pontos de exclamação e de
interrogação não funcionam realmente enquanto pontos. Eles
são marcadores visuais que nos dão a entoação da frase, mas não
servem para lhe colocar um final. Nos diálogos, é assim que eles
funcionam e é esse o seu papel.
Comparando esses pontos com o ponto final, vemos que o ponto final já
serve para colocar um final real nas frases sempre que aparece.
Quando a frase não termina na fala e continua na narração através
de um verbo dicendi, o ponto não aparece. Quando a frase da
fala termina e é seguida de uma outra frase que se refere a uma ação
completamente diferente, temos lá o ponto, para mostrar que as
ideias são diferentes.
Entendem agora o que eu quis dizer com ser o verbo a mandar na
pontuação? O tipo de verbo define como a pontuação se comporta a
cada caso.
Vamos agora ter mais exemplos, com tudo:
— Adoro gatos! — declarou a Maria.
— Não gosto muito da tua tia… — disse a Matilde.
— Tens quantos cães? — perguntou a Mariana?
— Tens olhos bonitos — afirmou a avó.
— Detesto pó! — A Maria estava com os olhos vermelhos de
alergia.
— Não gosto do meu pai. — A voz de Pedro era fria como gelo.
— O que te aconteceu? — A Mariana estava genuinamente
preocupada.
Compreenderam tudo direitinho até aqui?
Vamos avançar e ver, afinal, o que distingue a pontuação com aspas
da pontuação com travessões. Vamos introduzir mais exemplos, que
eu acredito que eles tornam tudo mais simples.
“Adoro camaleões!” disse a Vânia.
“Amas mais o teu marido do que eu pensava, não é?” perguntou
a sogra.
“O golfinho sabe nadar.” Matilde bocejou.
Até aqui, é tudo igual, certo? Mas, quando se relaciona uma frase
com a narração com um verbo de fala, deixa de ser.
“O golfinho sabe nadar,” disse a Matilde.
Notaram ali aquela vírgula? Bom, com as aspas é necessário colocar
uma vírgula quando a mesma frase tem fala e tem narração, e se
passa de uma para a outra.
Ficou claro o porquê da vírgula aparecer ali? Mudou de fala para
narração, tem de haver alguma coisa que o indique, então surge a
vírgula.
Vamos expandir o exemplo e vamos colocar-lhe uma vírgula para eu
falar de mais alguns pormenores e da posição na vírgula nessas
frases. A fala que vai ser dita será O golfinho sabe nadar, mas o
morcego não sabe.
“O golfinho sabe nadar,” disse a Matilde, “mas o morcego não
sabe.”
Notem que a vírgula vem sempre junto do primeiro elemento e não
junto do segundo. Assim, se primeiro vier algo entre aspas, a vírgula
vem dentro das aspas, junto à última palavra desse primeiro
elemento. Se a vírgula separar narração de fala, e primeiro vier a
narração, a vírgula vem fora das aspas, junto à última
palavra da narração (vejam a segunda vírgula do exemplo). Assim, a
vírgula que pertencia à fala acaba por aparecer logo de início. É
bem simples, não é?
Agora, aproveitando o exemplo, vamos ver como ficaria intercalada uma
pequena narração dentro de uma fala maior com travessão. Reparem
no que acontece à vírgula:
— O golfinho sabe nadar — disse a Matilde —, mas o morcego
não sabe.
Ao contrário do que acontece com as aspas, nunca se coloca
uma vírgula junto do primeiro elemento, ela vem sempre junto do
segundo. Isto quer dizer que não podemos ter vírgulas antes de
travessões. Se a fala tiver uma, temos de colocar a narração antes
dessa vírgula, para que o travessão possa ficar antes dela, e a
vírgula virá a acompanhar a fala.
Vejam os exemplos:
1. *— O golfinho sabe nadar — disse a Matilde — mas o morcego não
sabe.
2. *— O golfinho sabe nadar — disse a Matilde, — mas o morcego não
sabe.
3. *— O golfinho sabe nadar —, disse a Matilde — mas o morcego não
sabe.
4. *— O golfinho sabe nadar, — disse a Matilde — mas o morcego não
sabe.
Todas estas frases estão mal pontuadas (geralmente, um asterisco
representa uma frase errada, e é o que está a representar aqui).
Pensem assim: a vírgula existe na fala, então tem de estar lá, não
pode desaparecer (1). A vírgula pertence à fala, então não pode vir
junto da narração, isso não faz sentido (2 e 3). E a última regra é a
mais simples: a vírgula nunca vem antes de um travessão (4).
Assim sendo, só a primeira frase dada anteriormente estava correta:
— O golfinho sabe nadar — disse a Matilde —, mas o morcego
não sabe.
E eu agora pergunto: e se vier um verbo de fala dentro de duas frases
diferentes?
O golfinho sabe nadar. O morcego, por sua vez, sabe voar.
Quero colocar “disse a Matilde” entre as frases.
Vamos lá pontuar isso corretamente. Ficaria:
— O golfinho sabe nadar — disse a Matilde. — O morcego, por
sua vez, sabe voar.
“O golfinho sabe nadar,” disse a Matilde. “O morcego, por
sua vez, sabe voar.”
Sim, a narração vai restringir-se apenas a uma frase. O verbo
“dizer” está ligado à primeira parte da fala. Depois, a frase
termina e começa outra, sem verbo na narração. Assim, temos de
assinalar a separação das duas frases da fala com o ponto antes
da segunda, separando a primeira da segunda. A narração fica
“embutida” nas falas se tiver um verbo dicendi. É como se
a fala se estendesse e perdurasse durante a narração que a
descreve. Só aí é que termina e, terminando a narração, termina
a fala que lhe estava ligada.
Noutros casos, se tivermos uma ação no meio da fala, fica assim:
“O golfinho sabe nadar.” A Matilde sorriu. “O morcego, por
sua vez, sabe voar.”
— O golfinho sabe nadar. — A Matilde sorriu. — O morcego,
por sua vez, sabe voar.
A ação não está ligada à fala por um verbo dicendi, então
temos três ideias e três frases diferentes.
Se tivermos um verbo de fala MAIS uma ação, unindo as regras
anteriores, fica assim:
“O golfinho sabe nadar,” disse a Matilde, sorrindo. “O
morcego, por sua vez, sabe voar.”
“O golfinho sabe nadar,” disse a Matilde. Ela sorriu. “O
morcego, por sua vez, sabe voar.”
~~
— O golfinho sabe nadar — disse a Matilde, sorrindo. — O
morcego, por sua vez, sabe voar.
— O golfinho sabe nadar — disse a Matilde. Ela sorriu. — O
morcego, por sua vez, sabe voar.
Vamos terminar agora ao falar dos casos com frases maiores.
Apesar de ser correto intercalarem uma narração com verbos de
fala no meio de uma linha de diálogo longa sem a quebrarem, não
podem intercalar ações no meio de uma linha de fala grande sem a
interromperem. Lembrem-se, os verbos de fala completam o diálogo, a
fala estende-se para os verbos dicendi… mas os verbos de
ação interrompem a fala, abordam ideias completamente diferentes e
não se ligam entre si.
Peguemos na frase longa:
“Eu gosto de caracóis, mas detesto porcos.”
— Eu gosto de caracóis, mas detesto porcos.
Podemos ter um enunciado de fala no meio:
“Eu gosto de caracóis,” disse a Mariana, “mas detesto
porcos.”
— Eu gosto de caracóis — disse a Mariana —, mas detesto
porcos.
Ou podemos ter um enunciado de fala no final:
“Eu gosto de caracóis, mas detesto porcos,” disse a Mariana.
— Eu gosto de caracóis, mas detesto porcos — disse a Mariana.
A ideia é que, realmente, enunciados com verbos dicendi
completam a fala, venham onde vierem, e ela segue sem problemas,
esteja o enunciado onde estiver, e desde que não quebre nem
interrompa nenhuma ideia que componha a frase.
Mas se tiverem uma ação já não têm essa liberdade. Vejam como se
inicia uma frase nova no final por causa do verbo em questão:
“Eu gosto de caracóis, mas detesto porcos.” A Mariana coçou
o queixo.
— Eu gosto de caracóis, mas detesto porcos. — A Mariana coçou
o queixo.
A única maneira de intercalarem uma ação durante uma fala é
cortando a fala em várias frases distintas, assim:
“Eu gosto de caracóis…” A Mariana coçou o queixo. “Mas
detesto porcos.
— Eu gosto de caracóis… — A Mariana coçou o queixo. —
Mas detesto porcos.
E pronto! Eu disse que estávamos a terminar! Já abordámos todas as
exceções e todas as situações básicas de pontuação de diálogo!
Foi um post longo, mas espero que vos tenha ajudado!
Vou agora deixar aqui uma lista com exemplos de diálogos um pouco
maiores e intercalados com mais narração para as duas formas de
pontuação. Espero que não tenham mais dúvidas! Estudem os
exemplos agora do final e reparem nos verbos e na pontuação usada
ao intercalar o diálogo com os enunciados.
Boa escrita para todos!
~~
“Queria um pouco mais do teu incrível café mágico.”
Lourenço deu um toque na caneca à sua frente, sorriu para a sua
filha. “Por favor, claro.”
“Está bem, está bem… Mas só porque o senhor é um bom
cliente!” Ela saiu da cozinha a correr e no segundo seguinte berrou
do quintal, “Com muita ou com pouca terra?”
Lourenço suspirou e depois respondeu de volta, “Com muita,
minha senhora!” Ele só esperava que desta vez não houvesse
minhocas.
~~
— Odeio-te! — exclamou Renata. Ele tentou aproximar-se dela,
mas a mulher foi mais rápida. — Não me toques! — Antes que ela
sequer pudesse pensar no que fazia, a sua mão subiu e acertou no
rosto dele.
~~
“Não acredito nisto!” disse Linda. Olhou à sua volta e ainda
lhe custava reconhecer a jarra que fora da sua avó entre os cacos
espalhados no chão. As flores jaziam sobre uma poça de água suja.
Ela voltou a sua atenção para os seus filhos. “Quem foi que fez
isto?” As crianças recusavam-se a olhá-la. “Eu fiz uma
pergunta!” exclamou. Eles tremeram, e ela tornou a insistir, “Quem
foi o pobre infeliz que fez isto? Juro que se vai arrepender de ter
achado que brincar às espadas com a vassoura era uma boa ideia!”
~~
— De certeza que sabes conduzir isto?
Flávia apertou mais as mãos à volta de Hugo. Ele sorriu, mas
estava de costas para ela sobre a mota e ela não o viu.
— Sim, de certeza, boneca. — De travão bem preso, ele
acelerou um pouco, só para fazer barulho com o motor. Ouviu o
guincho dela com prazer e o seu sorriso aumentou. — Estás com
medinho? — perguntou. — Se tens medinho, diz-me. Não precisas de
vir agora.
Ela mordeu o lábio e apertou-se mais contra ele.
— Claro que não tenho medo! — disse. A sua voz soou
surpreendentemente mais firme do que ela estava à espera, e isso
agradou aos dois.
Mas Flávia tinha tanto medo que nem sentia as pernas. Apesar de
tudo, ela deu por si a incentivá-lo:
— Estás à espera de quê? És tu quem tem medo agora?
Hugo riu-se alto e no momento a seguir a sua risada deixou de se
ouvir sobre o som ensurdecedor da mota a arrancar a toda a
velocidade.
~~
“Já não sei o que mais posso fazer, sabes?” disse Inês.
Tinha as sobrancelhas franzidas e a boca contraída numa linha fina.
“Tudo me parece tão… estranho,” concluiu. “Não confio em
ninguém aqui.”
“Sim, eu sei o que queres dizer,” respondeu Rodrigo, pegando
na cerveja que tinha sobre a mesa. Fez o líquido girar no seu
interior e depois bebeu um gole rápido. “É como se o tempo
corresse de forma diferente, não é? As prioridades aqui são
diferentes. Mas as pessoas têm-nos ajudado,” concedeu.
Ela suspirou e retrucou, “Esta cidade deixa-me confusa.”
Formou-se um beicinho amuado no seu rosto. “Quanto tempo ainda
vamos ficar aqui?”
“Isso depende.” Rodrigo coçou a sobrancelha direita e pareceu
pensativo por um momento. Depois olhou para ela. Não disse nada e
tornou a coçar a sobrancelha, com o olhar perdido na parede atrás
de Inês. “Isso depende e não é só de nós os dois…”
~~
— Gostas de mim? — perguntou ela. O seu sorriso era confiante.
Ela sabia que a resposta seria positiva. Ela só queria torturá-lo
por mais um momento.
Ele indicou que sim com um meneio de cabeça.
— Diz-me — insistiu —, gostas realmente de mim?
...
Extras:
1. COMO COLOCAR TRAVESSÕES
Se o vosso teclado tiver o number pad (o “num lock”) do lado
direito, é muito simples. Mantenham o dedo sobre a tecla ALT e
primam os números 0151. Esse é o código ASCI para o travessão
aparecer.
Se tiverem um notebook/computador portátil e ele não tiver o number
pad, podem colocar o travessão ao acederem à aba INSERIR do
Microsoft Word, acederem a SÍMBOLO e o encontrarem na lista que
aparece.
Uma sugestão muito boa é criarem um atalho próprio no programa que
usam para escrever para poderem ter o travessão facilmente. O meu
atalho é ALT + A. Sempre que eu primo essas teclas, eu coloco um
travessão no Word. No Word podem ir a SÍMBOLOS e depois escolher
TECLA DE ATALHO para definirem qualquer atalho à escolha para
qualquer símbolo que queiram.
Se não tiverem um processador de texto que permita essas edições
ou essas inserções de símbolo, podem fazer o que eu faço quando
uso o Google docs. Procuro literalmente “travessão Wikipédia”
no Google e acedo à página da Wikipédia sobre o travessão. Aí só
tenho de copiar o símbolo diretamente da página e colá-lo sempre
que precisar de colocar um no texto. Em vez de fazer ALT+A, faço
CTRL+V.
...
2. UMA ÚLTIMA DICA SOBRE DIÁLOGOS — O VOCATIVO
Esta dica é um extra. Acrescento-o aqui porque é outro erro grave
que incontáveis diálogos no Nyah! têm e que é realmente simples,
se quiserem tentar descobrir qual é esse erro.
O vocativo é o que se chama ao “nome” da pessoa com quem estamos
a falar.
Se eu me viro para um grupo de pessoas e falo “Gente, socorro!”,
esse “gente” é o que eu estou a chamar a esse grupo de pessoas.
“Gente” é o vocativo.
Se eu digo “Professor, tenho uma dúvida!”, “professor” é o
que eu estou a chamar à pessoa com quem falei. “Professor” é o
vocativo da frase.
Se eu digo “Meu amor, podes passar-me o sal?”, “meu amor” é
a forma que eu tenho de chamar a pessoa com quem estou a falar, então
é o vocativo.
Caso tenham reparado, tudo aquilo que eu identifiquei como vocativo
veio entre vírgulas nas frases. É uma regra gramatical muito
importante e simples, que basta que interiorizem para não errarem. O
vocativo tem sempre de vir entre vírgulas. Ele vem só com uma se
estiver encostado ao início ou ao final da frase, mas tem de vir
sempre isolado do resto.
Deixo aqui outro mini exemplo de diálogos, mas com alguns vocativos
em todas as falas para servir de exemplo:
— Sabes, Pedro, eu detesto o frio…
— Sei sim, Maria, estás sempre a falar disso…
— Estou? Deixa de ser chato, deixa-me em paz, seu… seu chato!
— Eu sou chato? Tu é que és irritante, sua irritante!
— Não sejas mau, irmão, não me quero chatear contigo.
— Nem eu contigo, maninha. Tens razão.
— Vamos fazer as pazes, cabeça de mula?
— Vamos, ancas de cegonha, vamos…
...
3. DIFERENÇAS DE PONTUAÇÃO US VS UK
As diferenças de pontuação com aspas são poucas. Basicamente, nos
Estados Unidos da América usam as aspas curvas duplas (“ “) e no
Reino Unido e na Austrália usam as aspas curvas singulares (‘ ‘).
Para além disso, na norma norte-americana, a posição da vírgula
entre fala e narração com verbos dicendi é fixa. Na norma
britânica e australiana, essa posição é normalmente um pouco
relativa.