Gêneros Literários

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Por: Sahky Uchiha

Olá pessoas! Hoje vou falar um pouco sobre Gêneros Literários, que têm uma grande importância para nós ‒ autores e leitores ‒ pelo motivo de conhecermos melhor a história que estamos criando. Sabendo em que gênero ela se encaixa, entenderemos suas características predominantes e isso nos dará o poder de explorar ao máximo na hora de escrever. Lembrem-se, quanto mais temos conhecimento teórico sobre algo, melhor será o desenvolvimento quando se puser em prática.

Voltando um pouco no tempo, é interessante ressaltar que a literatura começou a existir no Brasil através da colonização europeia pelos portugueses. Até então, a literatura portuguesa, formada e influenciada pela literatura greco-romana, seguia a tradição da divisão padronizada dos gêneros literários, a qual se fundamentou nos dias de hoje por meio do filósofo Aristóteles. Esta separação facilita a identificação das características temáticas e estruturais das obras, sejam elas em prosa ou em verso. 

De acordo com a concepção clássica (Arte Poética, de Aristóteles), os gêneros se dividem em três categorias básicas: o lírico, o dramático e o épico. Atualmente, também se organizam os textos literários em três gêneros: lírico, dramático e narrativo.

Gênero Lírico: É a manifestação literária em que predominam os aspectos subjetivos do autor. É, em geral, a maneira de o autor falar consigo mesmo ou com um interlocutor particular (amante, amigo, fantasia, elemento da natureza, Deus...). Seu nome vem de lira, instrumento musical que acompanhava os cantos dos gregos.

Caracteriza-se por um texto de caráter emocional, centrado na subjetividade dos sentimentos da alma e predominância das palavras e pontuações de 1ª pessoa. Além disso, ela ainda conta com a participação do “eu-lírico”, ou seja, a própria voz que fala no poema, expressa pelas emoções e pelo sentimentalismo, no qual o eu-poético não mantém nenhuma ligação com o artista (o poeta).

Assim podemos encontrar:

Autor masculino → eu-lírico masculino
Autor masculino → eu-lírico feminino
Autor feminino → eu-lírico feminino
Autor feminino → eu-lírico masculino

Exemplo:

Garganta, de Ana Carolina

Sei que não sou santa
Às vezes vou na cara dura
Às vezes ajo com candura
Pra te conquistar
Mas não sou beata
Me criei na rua
E não mudo minha postura
Só pra te agradar

Nesse caso temos um autor feminino com o eu-lírico feminino, demonstrado principalmente nas palavras “santa” e “beata”.

O gênero lírico se divide em:

Poesia: Expressão artística com foco na estética da palavra;
Ode: Texto entusiástico e melódico (geralmente música);
Sátira: Ridiculariza uma pessoa ou situação;
Hino: Exalta ou glorifica um tema (país ou religião);
Soneto: Poesia com 14 versos, dois quartetos e dois tercetos;
Haicai: Poesia japonesa sem rima, constituída normalmente por três versos.

Gênero Dramático: Tem origem na Grécia Antiga, provavelmente em eventos em homenagem a Dionísio, deus do vinho. São textos escritos para serem encenados em uma peça teatral. Atualmente é difícil diferenciar um texto dramático dos outros gêneros, devido à tendência que se observa de transformar qualquer tipo de texto em um roteiro. Como exemplo de textos de gênero dramático, temos os de William Shakespeare, que escreveu várias peças e que se transformaram em clássicos do teatro universal, como Romeu e Julieta.

Exemplo:

Ato II - Cena II

[...] Julieta aparece na janela [...]
[...] Julieta: Ai de mim!
Romeu: Oh! Falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso para esta noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado das alturas, poderia ser para os olhos brancos dos mortais atônitos (espantados, pasmados, estupefatos), que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar sereno.
Julieta: Romeu! Romeu! Por que és tu, Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome, ou então, se não quiseres, diga ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.
Romeu (à parte): Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?
Julieta: Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és se Montecchio tu não fosses. Que és Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos de rosa sob uma outra designação teria igual perfume. Assim, Romeu, se não tivesses o nome de Romeu, conservaria a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.[...]
(Romeu e Julieta, de William Shakespeare)

São várias as espécies que representavam o gênero dramático, entre elas destacam-se:

Tragédia: É a representação de um fato trágico, apto a suscitar compaixão e terror. 
Comédia: É a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes.
Tragicomédia: É a mistura do trágico com o cômico. Originalmente, significa a mistura do real com o imaginário.
Farsa: Pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, criticando a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (“Rindo, corrigem-se os costumes.”).

Gênero Narrativo: É o relato de um enredo, que pode ser baseado em fatos ou ficcional. Nesse gênero os fatos ocorrem em sequência. Sua principal característica estrutural é que conta com um inicio, um clímax e um desfecho. Como exemplo desse gênero, temos:

O Coveiro
Millôr Fernandes

Ele foi cavando, cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouviu um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: O que é que há?
O coveiro então gritou, desesperado: Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível! Mas, coitado! - condoeu-se o bêbado. - Tem toda razão de estar com frio. Alguém tirou a terra de cima de você, meu pobre mortinho! E, pegando a pá, encheu-a e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.

Entre a divisão do gênero narrativo, estão:

Romance: Forma literária do gênero narrativo que apresenta uma história completa, com temporalidade, ambientação e personagens claramente definidos. Surgiu na Idade Média, tendo em Dom Quixote, de Cervantes, sua principal representação.
Fábula: Texto de caráter fantástico que não guarda nenhum compromisso com a realidade, e funde dois elementos principais: o lúdico e o pedagógico. Os personagens costumam ser animais ou objetos, para transmitir alguma lição de moral através da narrativa. Ex.: Fabulas de Fontaine, algumas adaptadas por Monteiro Lobato.
Epopeia: Narrativa feita em versos, em um poema extenso, que ressalta os feitos significativos de um herói ou de um povo. Ex.: Os Lusíadas, de Camões; Ilíada e Odisseia, de Homero.
Novela: Texto narrativo com extensão menor que o romance, porém mais longo que o conto, e a brevidade do conto. (Os folhetins de televisão, a rigor, deveriam ser chamados de romance televisivo, mas por influência espanhola, ficaram conhecidos como telenovelas). Ex.: Um exército de um homem só, de Moacyr Scliar.
Conto: Texto de ficção narrado em 3ª pessoa, caracterizado pela densidade e a concisão. Cria situações e personagens fantasiosos. Autores que se destacam nesse gênero são: Machado de Assis e Clarice Lispector.
Crônica: Esse termo deriva do grego “Chronos”, que significa tempo. Trata-se de uma narrativa informal, que procura captar um flagrante da vida cotidiana, com linguagem breve e um toque de humor. É considerado um gênero menor, porque oscila entre a literatura e o jornalismo. Um exemplo de cronista brasileiro consagrado é Rubem Alves.
Ensaio: Texto curto, com uma linguagem situada entre a poesia e a didática, sem nenhuma exigência de comprovação externa. É apenas uma exposição de ideias e reflexões a cerca de algum tema. Ex.: Ensaio sobre a tolerância, de John Locke.

Bom, é isso que eu queria passar, espero que tenham gostado.
Até a próxima!

VILARINHO, S. Gêneros Literários. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/literatura/generos-literarios.htm>. Acesso em: 10 abr. 2014.
LIMEIRA, E. A. Gêneros Literários. Disponível em: <http://educacao.globo.com/portugues/assunto/estudo-do-texto/generos-literarios.html>. Acesso em: 10 abr. 2014.
DUARTE, V. M. N. Gênero Lírico. Disponível em: <http://www.portugues.com.br/literatura/generolirico.html>. Acesso em: 10 abr. 2014.
PEREIRA, C. L. Gêneros Literários. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/CarolinaLoassoPereira/gneros-literrios-8309081#>. Acesso em: 11 abr. 2014.
Revista Literária, Gêneros Literários. Disponível em: <http://www.revistaliteraria.com.br/generos.htm>. Acesso em: 11 abr. 2014.

2 comentários:

  1. Em relação a temporalidade dos gêneros, você pode explicar?

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    1. Infelizmente, a autora deste post já deixou a Liga, pelo que não lhe posso enviar a pergunta. No entanto, vou deixar a tua questão aqui para o caso de algum leitor querer contribuir :)

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