Clube de leitura: 4a rodada

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Por: Lady Salieri 

Meus queridos!

Estou aqui para dizer que a nossa 4a edição do clube de leitura, e a primeira levada ao público, foi um sucesso! Ficamos super felizes com as resenhas, e Cyndi ficou muito feliz com a recepção e com os comentários recebidos.

Queremos agradecer a participação e esperamos que as próximas edições sejam cada vez maiores.


Confira as resenhas completas AQUI 


Mas, só para vocês terem um gostinho, aqui vão alguns recortes dos comentários:


Cloockwork Writter 

Uma escrita ótima, não cansativa, sem erros grosseiros, ótima descrição das cenas. Um ar sombrio, gótico... O suspense presente nas linhas escritas que prende o leitor. Nada mais esperado, mas vamos ser mais específicos.


Miss Paige
Bem, a julgar pelo título da fic, imaginei que não fosse gostar tanto assim. Mas me surpreendi, a começar pela sinopse maravilhosamente bem escrita e chamativa. Depois, fui me envolvendo a cada linha e sendo tragada pela atmosfera sombria do manicômio, como se tivesse estado lá e presenciado cada fato narrado.

Suikrai
A ideia foi fantástica! E não poderia ter sido passada de uma maneira melhor, a começar pelo cenário que — como dito — foi impecavelmente bem descrito, a visualização do local no meio da floresta sombria, a névoa que o encobre, as plantas se encorporando as paredes velhas, os cômodos escuros e sombrios, tudo é ilustrado perfeitamente na mente do leitor (hoje estou para usar adjetivos).

Bree Lee
' Bem, eu posso dizer que esta One está muito bem escrita; a narrativa em 3 pessoa ficou formidável. Ela começa tão brutal e assustador, e acaba tão sereno e esperançoso, foi um ótimo golpe para me prender mais e mais na minha leitura, sem de desgrudar da tela, achando que ela não tinha final, e sinceramente, nem percebi que eu já chegava ao fim.

Elyon Somniare
Em relação ao estilo de escrita, há um bom equilíbrio entre os diálogos, a narração, descrições externas, e exploração da psicologia das personagens. Considerei apenas que o desenvolvimento de alguns pontos, como, por exemplo, a personagem de Sir Gull e os respectivos negócios, bem como a história por detrás das suas acções, se encontrava em falha, podendo vir a tornar-se em mais-valias.

Becca
Bem, a estória é incrível, com uma descrição maravilhosa, que vi poucas vezes no site — onde ingressei recentemente — o que me deixou muito animada ao ler. A introdução foi o que me fisgou de fato, me prendeu nas linhas e tomou toda a minha atenção.

Salow
A fiction inicia prometendo, histórias envolventes e dadas apenas pela metade, descrições curiosas e um clima que impele a continuar lendo e descobrir quais segredos o Manicômio poderia ter. Não é uma leitura fácil, mas também não é difícil, está bem naquele meio-termo e eu gosto disso. Não subestima, nem superestima a inteligência de leitor algum.

Addae
O que eu acabei de ler é sem igual. Não tem nada parecido com isso no mundo. Elas eram especiais em seu modo, poderosas, mas escravas da própria mente, como as estrelas são do céu.  

Lady Salieri
O que primeiro chama a atenção na história, de fato, é a descrição do ambiente. Ao mesmo tempo que subimos ao celeste, descemos ao inferno, como se as próprias promessas não levassem a nada que não fosse à decepção. E não é em busca de uma promessa que as famílias das vítimas deixam suas meninas ali? Promessas dos mais variados âmbitos que exigem os mais variados sacrifícios.

****** 

Lindíssimo, certo, pessoinhas? Não deixem de conferir as resenhas completas.

E dentre estas histórias (logo abaixo) sairá a próxima sorteada para o clube. O sorteio será feito em breve, da maneira mais transparente possível. Aguardem um sinal do Salow, que é o responsável pelo Clube de Leitura. Mas sintam-se à vontade para ler todas, será que sou só eu que fica curiosa diante de links assim?







1

Entrevistando o escritor: Ghad

terça-feira, 30 de julho de 2013

Por: Cyndi 
(Beta reader e team da Liga dos betas)



Olá, sou a Cyndi e trago a primeira de uma série de entrevistas que será muito útil para qualquer um que leve a literatura a sério. Fui atrás de pessoas que já publicaram profissionamente e/ou trabalham em editoras, e teremos coisas muito interessantes a partir de hoje. Dicas, conselhos e alertas de quem já chegou onde todos nós sonhamos em chegar: ter um trabalho nas prateleiras de uma livraria e ganhar alguma coisa com isso.

O primeiro convidado é o Ghad, um rapaz que posso descrever como sombrio e quase tão paranóico quanto eu. Sim, porque eu moro em um bunker, meu nível de paranóia é mais de oito mil.

O trabalho do Ghad pode ser encontrado aqui: http://www.editora.estronho.com.br/index.php/autores/274-ghad-arddhu

Agora, ouçam o que o rapaz tem a dizer:



******



Cy: Oi! Quenhé você? (aproveita pro jabá)

Gh: Sou um escritor amador, não sou um profissional e nem consigo extrair sustento por base nessa atividade ainda. Não tenho um primeiro romance lançado e ainda não consegui terminar de escrever nenhum. Sou um cara com quase 30 anos, moro no litoral de São Paulo e pela internet (e em boa parte da vida) me conhecem como Ghad, um nick antigo da época onde modens tinham 4000 bauds, BBS era hacktivismo e internet era um rumor. Mantenho meu site pessoal em http://www.axisdraco.com e estou no último semestre do curso de graduação em letras. Até o momento apenas participei de antologias como Cursed City e VII Demônios, ambas da editora Estronho mas trabalho arduamente na conclusão de meu primeiro romance.


Cy: Há quanto tempo escreve? Como começou e por que resolveu escrever?

Gh: Escrevo desde pirralho. Essa é a melhor resposta que tenho para isso. Não posso precisar uma idade já que fui alfabetizado muito cedo, segundo minha mãe, de forma auto-didata com intuito de ler meus livros e escrever minhas histórias. O que me motivou a começar a escrever eu não faço a menor ideia, não tenho uma história com fundo moral e nem um objetivo condutor, apenas escrevo pois é uma atividade que me dá prazer. Todo o resto é puro desejo momentâneo, projeção de interesses ou outras coisas que ocorrem naquela coisa que acontece enquanto fazemos planos, chamada vida.


Cy: Tem o hábito de mostrar seus textos para outras pessoas? Por quê?

Gh: Não tinha, hoje eu tenho e considero que eu era idiota. Escrever é uma atividade tão antiga e particular do ser humano que acredito estar visceralmente inserida na alma do homem, no entanto escrever por escrever é algo que resulta apenas em uma produção pessoal. Uma vez que exista qualquer razão ou intenção de externalizar esses escritos, leitores beta serão necessários. Veja bem, não julgo que sei tudo (ou que saiba algo na verdade) sobre escrever enquanto atividade para os outros, sei um bocado de coisas que percebi na trajetória de minha vida e elas me são bem úteis. Uma delas é: Eu não escrevo para engavetar, eu o faço para dar vida a meus pensamentos, ideias e fantasias e essa vida só existe na minha concepção, quando consegue alcançar outros. Ora, se eu desejo que alcance outros, eu preciso entender que minha voz interna é somente compreendida em sua totalidade por mim. Para que outras pessoas entendam o que escrevo com um maior compreensão, é necessário que exista uma pessoa "fora de mim" para ler e apontar onde minha voz interna abusa de meus recursos, pensamentos e experiências. O ideal é conseguie encontrar onde não me faço claro e onde eu escrevo algo tão auto-contido que não faz sentido a ninguém. Logo, mostro meu texto para outras pessoas para aprender, para escrever melhor com esse objetivo de dar vida.


Cy: O que você espera de um beta reader quando envia algo pra ele?

Gh: Honestidade, atenção, educação. Honestidade é a base de qualquer relacionamento com um beta-reader, não adianta você escrever alguma coisa que seja excelente aos seus olhos que faça todo o sentido para seu conjunto de pensamentos e vivências, se isso não vai reverberar em ninguém por ser extremamente hermético e auto-contido; honestidade é algo desejado quanto ao que se produz, afinal, se você não quer que o mundo conheça o que você escreveu, confine isso a sua gaveta, seu computador ou o que seja. Atenção é talvez a tarefa mais importante de um beta-reader e sua maior missão, atenção é encontrar o que esta expresso e o que esta implícito, o que está compreensível e o que precisa ser melhor trabalhado; sem atenção um beta-reader é apenas uma pessoa que lerá algo sem objetivo, sem função e sem contribuir em nada. Educação é necessária, o fato de honestidade ser requisito, não exime o beta-reader de ter educação, ser polido é algo desejável mas nem sempre possível, no entanto educação se faz mister para mexer em algo que é o resultado da essência de uma pessoa, da revelação muitas vezes íntima de seus pensamentos e sentimentos. 


Cy: Você já foi beta reader de alguém? Como foi a experiência?

Gh: Já fui beta-reader de algumas pessoas, principalmente amigos escritores e frequentemente de colegas de faculdade ou pessoas que considerem que eu tenho uma boa capacidade para a escrita. A experiência varia a cada acontecimento, não existem duas pessoas iguais e não existem duas escritas iguais. Enquanto algumas pessoas podem se expressar facilmente sem criar qualquer conexão emotiva, outras podem ter um vocabulário excelente mas mal empregado. Cada leitura beta é um universo com suas próprias regras que aos poucos vão sendo aprendidas pelo escritor e pelo leitor na busca de algo harmônico e que represente o balanço necessário para que a escrita tenha vida.


Cy: Acha que o beta tem algum papel de importância na literatura?

Gh: Sim, acho que a importância do beta-reader é proporcional à capacidade do escritor em ser honesto consigo mesmo e com seus objetivos. Como disse antes, se você escreve para guardar seus escritos, não há a necessidade de um beta-reader, mas se você deseja que qualquer obra sua venha à luz, considero que o beta-reader é tão importante quanto a inspiração ou a transpiração que escrever demanda.


Cy: O que você diria a centenas (ou milhões) de escritores de fanfics que sonham em chegar a um nível profissional?

Gh: Encontrem sua voz. Eu mesmo já escrevi inúmeras fanfics (a maioria de qualidade questionável) justamente por encontrar em alguns universos ficcionais coisas que existiam apenas em meus pensamentos. No entanto percebi que o que encontrei nesses escritos foi o reflexo disso, uma amálgama estranha da minha voz interna com o que eu suponho ser a voz dos escritores. Eventualmente percebi que encontrar minha voz era necessário, percebi que fanfic é a idealização e a projeção de necessidades e vontades. Uma vez que você encontre a sua voz interna, você pode ate utilizar de universos já estabelecidos e criados, no entanto poderá ao fim de um trabalho qualquer sentir satisfação em ter feito algo realmente seu. Na parte burocrática, infelizmente nem todos escritores gostam de fanfics, nem todos grande autores querem ver sua obra sendo desmembrada e tomando rumos que não eram o de sua criação. É um terreno nebuloso e que até o presente momento permite pouco espaço para alçar voo, afinal, os direitos intelectuais existem e se há alguma aspiração a profissionalização, ou ainda, a obter alguma renda com isso, é bem improvável que se consiga utilizando o universo dos outros. Exceto se você for contratado com esse objetivo, mas isso é outra historia.


Cy: O que diria a um bando de beta readers de fanfics que sonham em trabalhar profissionalmente com literatura de alguma forma?

Gh: Leiam, devorem, regurgitem e vejam o que sai pra fora. Vejam do que vocês são feitos por dentro, entendam quais são suas belezas e feiuras, aprendam a lidar com isso a a utilizá-las da melhor forma possível. Não tenham arrogância em achar que conhecem tudo sobre algo ou alguém, que sabem exatamente o que deve ser feito para alcançar o sucesso sem que o tenham alcançado ainda. Entendam que existe uma harmonia delicada a ser encontrada entre a sua voz interna e a voz que sai de você para os outros e que enquanto você não encontrar o caminho do meio entre os dois você ou não será compreendido ou não fará nada que seja seu. 

Conheçam a língua, internet é uma ferramenta de comunicação que transformou a humanidade, no entanto se você escreve apenas gírias, não se estranhe de pessoas por fora desse jargão particular não entenderem nada do que você produz. A língua no qual se escreve deve ser tratada com carinho por ter proporcionado a você a capacidade de conhecer historias e a leitura das mesmas. Retribua na mesma proporção que considera importante a escrita para você, assim você encontrará uma linguagem natural e compreensível. Eventualmente, você encontrará a sua própria língua, mas até lá é importante que você tenha em mente que a língua tem a função primordial de comunicar e se o seu domínio da mesma é pífio, dificilmente você encontrará uma forma efetiva de fazer sua mensagem, historia ou ideia ser entendida por outras pessoas e, nesse caso, é melhor que o que você produz fique confinado em uma gaveta, pendrive ou computador.
0

Escrevendo a sinopse de sua fic

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Por: Lady Pain 
(Beta reader da Liga dos betas )
Perfil Nyah: http://fanfiction.com.br/u/33636/



S i n o p s e



Sinopse: versão menor de um texto; resumo encurtado; breve sumário.

Vemos sinopses em vários lugares e de vários assuntos: de fanfics, livros, jogos e até de obras científicas. Elas existem para nos dar uma pequena explicação, é uma apresentação sobre uma obra. É a partir dela que decidimos se vamos ler ou não o livro, comprar ou não o jogo ou saber se aquela obra é realmente a que procuramos.

Mas a sinopse é realmente importante? E para as fanfics?

É essencial. Quando falamos de fanfics, é necessário lembrar que o primeiro contato que o leitor realmente tem com a história é através da sinopse. É ao lê-la que ele, muitas vezes, decide se lerá a história ou não. Uma boa sinopse já dá uma pista de que a história pode ser boa, e há algumas coisas essenciais para que elas atraiam – ou não – os leitores:

·         Tamanho

É sempre bom lembrar que exageros são dispensáveis. Quando você for escrever uma sinopse, nunca a faça muito pequena ou muito grande, procure deixá-la com um tamanho bom.

·         Detalhes

Nunca faça da sinopse a ficha pessoal do seu personagem, incluindo o nome completo, altura, gostos e amores. Também não exagere nos adjetivos, seja direto e centrado, escrevendo o essencial e o que atrairá os leitores.

·         Avisos

Avisos como "é a minha primeira fanfic", "sinopse lixo fanfic melhor" e derivados, nunca, sob hipótese alguma, farão com que o leitor leia a história. Muito pelo contrário, o assustaria.

·         Deixar em branco

Não deixe o espaço da sinopse em branco, não só faz parecer que você não se esforça para deixar a sua história interessante como também pode fazer alguém denunciá-la por não conter sinopse, afinal, ela é o primeiro contato do leitor com a história, como eu já citei.




·         Escrever em capslock (DESTE MODO):

Além de ser incômodo ainda chama muito a atenção e parece muito que você é inexperiente. Existem modos melhores de fazer os leitores se interessarem pelo seu texto, como: usando palavras menos conhecidas e tendo coerência – o que é o principal.

·         Coerência e coesão

A sinopse precisa ser coerente, seguir uma linha inteligível de pensamentos. Deve ter coesão com a história, tema e todo o resto. É fácil perder a coerência quando se escreve muito, por isso é bom maneirar.

·         Conteúdo

O maior dos pecados é quando um autor escreve tudo o que acontece na história dentro da sinopse. Desde como os personagens se conhecem até se eles morrem ou ficam juntos. Não faça isso. Para que o leitor lerá a história se, quando leu a sinopse, já soube tudo o que acontece?




Dicas de como fazer uma sinopse



·         Abuse do suspense

Não tenha medo de deixar questões pendentes. Quanto mais intrigante for a sinopse, mais vontade o leitor terá de ler a história. Faça perguntas, termine a sinopse com uma frase incompleta, instigue o leitor.

·         Use como base o começo da história

Coloque os acontecimentos iniciais da história instigando os leitores a descobrirem o que acontece no final dela. É um bom modo de criar uma sinopse quando a história é longa.

·         Poemas ou letras de música

Caso haja uma música que se enquadre na sua história, não há mal em usá-la como sinopse. Na realidade é mais fácil usá-la quando não se sabe fazer sinopses ou não se quer.

·         Frases

Seja uma frase da própria história ou de outra pessoa, que tenha coerência com a sua história, pode ser uma boa escolha. É mais aconselhável que seja uma frase de sua própria autoria.



É isso aí, pessoal. A sinopse é uma parte essencial da fanfic, já que é o cartão de visitas dela. Escrevam-na com atenção, pensando sempre que os leitores irão se basear nela para ler a fanfic.

Fontes: Wikipédia



42

As relações entre as personagens*

terça-feira, 23 de julho de 2013

Por: Daniel Cavalcante (colaborador)
*Texto publicado originalmente no site Quadrinize

Relacionamento
Ninguém é uma ilha em si mesmo. Cada um é uma porção do continente, uma parte do oceano – John Donne

Se existe uma habilidade inata no ser humano é a capacidade de se relacionar com os de sua própria espécie. Seja em menor ou maior nível, até mesmo os mais tímidos e reservados sabem estabelecer contatos – e sentem necessidade disso.

Relacionamento é a forma como duas pessoas se comunicam e interagem entre si. É o resultado do que cada uma das partes coloca de si mesmo “sobre a mesa”, como em um jogo de cartas sem regras. Cada ação provocará uma consequência, uma atitude que a outra pessoa escolherá para responder. Esse jogo pode durar a vida inteira ou até que se rompa o relacionamento. E muda vidas para sempre, para o bem ou para o mal.
As histórias de vida são construídas sobre relacionamentos. São eles que nos definem. É a qualidade, profundidade e intensidade do relacionamento que você estabelece com os que o cercam – nossas famílias, colegas de escola, vizinhos, amigos, os que nos prestam serviços, colegas de trabalho, conjunges – e consigo mesmo, que lhe dirá se você alcançou ou não a tão sonhada felicidade. Afinal, tudo o que você mais busca, seja afeto ou dinheiro, depende do seu relacionamento com alguém.
Como dizem Joseph Campbell e Robert McKee, histórias são metáforas para a vida. E não podíamos deixar esse assunto tão presente em nossas vidas de fora das discussões.
Quando se fala em relacionamento entre personagens de quadrinhos, logo se pensa em histórias de cotidiano sobre belas amizades e amores, muito comuns em graphic novels e mangás. De fato, desde as HQs de Will Eisner aos romances shoujo, temos inúmeros exemplos de histórias de vidas, felizes e trágicas, resultado da construção de um bom ou mal relacionamento.
Mas nas histórias de heróis o relacionamento também é essencial. O que seria do Naruto sem o relacionamento que teve com Sasuke, Kakashi, Jiraya e o terceiro Hokage? Ou do Batman sem seus pais e Alfred? Imaginem se Wolverine nunca tivesse encontrado Xavier! E se o Professor X jamais houvesse sido amigo de Magneto? O que dizer da capacidade de Monkey D. Luffy (ou Ruffy), de One Piece, de atrair aliados para sua tripulação?
O que aconteceria se os heróis não estabelecessem nenhum tipo de relacionamento, mesmo que antagônico, com seus piores inimigos? Teríamos apenas batalhas vazias para impedir um crime ou por vingança. Jamais conheceríamos histórias fascinantes em que herói e vilão se confrontam, se entendem e, muitas vezes, resolvem suas pendengas sem que alguém precise morrer, ou jurem uma guerra eterna na qual a morte é insuficiente como castigo. Nunca conheceríamos a fascinante disputa entre L e Kira, em Death Note. Não teríamos o eterno embate entre Batman e Coringa ou Homem-Aranha e Duende Verde. E Kenshin nunca poderia influenciar diversos de seus inimigos a ponto de torná-los aliados. Nesses exemplos, os relacionamentos entre os inimigos tornam a histórias muito mais interessantes e profundas.
Também podemos afirmar que, nas histórias, a má qualidade dos relacionamentos dos personagens também os definem. É importante destacar que nem sempre é uma influência negativa. Naruto e Gaara tiveram uma infância muito semelhante, sendo rejeitados por todos à sua volta. Mas cada um escolheu como reagir à isso. Um decidiu mostrar seu valor e conquistar a amizade de todos, o outro usou o medo que tinham dele a seu favor e se tornou um assassino, para que o respeitassem. O oposto também é verdadeiro. A amizade entre Charles Xavier e Erik Lensherr não garantiu que ambos seguissem o mesmo caminho, ao contrário, se tornaram inimigos.

Para que o relacionamento entre seus personagens seja interessante, você precisa construí-los com personalidades distintas. Se todos forem iguais e pensarem da mesma forma, concordando com tudo, não haverá sequer necessidade de se relacionar. Mas, como na vida real, personagens devem ser únicos e certamente terão conflitos uns com os outros. É comum que tenham dificuldades de desenvolver um bom relacionamento. Cabe ao autor decidir quais são os tipos de relacionamento seus personagens terão e como serão desenvolvidos ao longo de sua história, sempre pensando no que quer que sua história transmita e na experiencia de leitura do seu público.

4

Clichês em histórias Yaoi

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Por: Anne L -  beta reader e moderadora do Nyah! Fanfiction 



É bom começar dizendo que nem sempre um clichê é algo ruim, repreensível e que você nunca deve colocar um na sua história. São infinitas as situações em que os clichês podem ser úteis e até encaixar perfeitamente no texto, em especial se o autor souber usar. Mas esse post é focado nos clichês presentes nos yaois.

Yaoi, para quem não sabe, é uma palavra em japonês que se refere a histórias, animes, fanarts, etc, com conteúdo homossexual (homem/homem). É equivalente a boy’s love (BL), termo que também classifica histórias do gênero, e slash, termo mais usado em fics estrangeiras. Um gênero muito popular entre o mundo das fanfictions e mesmo entre escritores publicados, talvez também por conta disso, é alvo da criação de toda uma variedade de clichês.

Além dos que eu mesma cansei de encontrar, alguns escritores e leitores citaram alguns que eles observam nas histórias por aí.

  • Seme homem, uke mulher – para quem não sabe, seme é o termo referente em japonês ao ativo na relação. Uke, por sua vez, é o passivo.


Embora obviamente ambos sejam homens na história, muitos escritores têm uma tendência a fazer essa associação. O seme é o machão, aquele que nunca chora, que é grosso, que não demonstra seus sentimentos. E, é claro, o ativo durante o ato sexual. Já o uke é emotivo, doce, muitas vezes tímido; é aquele que cora, que chora, que suspira apaixonadamente. 

Acredito que isso aconteça, entre outras coisas, pelo motivo original da difusão do gênero no Japão. As mulheres de lá, reprimidas, vivendo numa sociedade bastante machista, acabaram vendo no yaoi uma forma de narrar histórias de amor, românticas de um modo geral, mas nas quais ambas as partes se tratassem de igual para igual. Isso explica por que os ukes nos mangás quase sempre possuem traços femininos físicos e de personalidade. No entanto, apesar de ser menor, mais delicado e sensível que o seme, na relação está numa posição de poder equivalente à dele, não abaixo. 

Contudo, apesar da justificativa louvável dessa representação, ela raramente reflete uma situação real na história, seja em mangás ou fanfics. Vira uma relação quase heterossexual, na qual o uke é, com o perdão da palavra, uma mulher com um pênis.

  • “Ele beijou seu peito branco e lisinho...” – homens totalmente sem pelos. Quem nunca viu um, não é? Acho que essa é mais por conta de uma idealização que as pessoas têm especialmente com o uke, já que “ele é a mulher”. Peito liso, barriga lisa, vi até histórias em que eles não têm pelos nas pernas. Gente, que isso! Essa é questão de bom senso. Homens têm muito cabelo, inclusive em lugares que eu prefiro não comentar. “Mas, Anne, o Fulaninho da minha fic depila!”. Aí tudo bem, aceito, mas duvido muito que todos os caras de todas as histórias yaoi depilem. Francamente.
  • Fulano é seme, Ciclano é uke – e isso nunca muda. A maioria das histórias tem isso como verdade, até por causa do item 1, e aí as atitudes, falas, tudo do personagem fica condicionado a isso. O seme nunca pode chorar, porque isso não é do feitio dele, tem sempre que se mostrar forte, duro, coisas que o uke não pode ser. O nome do casal muitas vezes é definido com base nisso, vindo o nome do seme primeiro e, mesmo durante o lemon, essa “hierarquia” se mantém inalterada. Tem gente que até repudia autor que troca as posições do casal, porque isso é errado, porque é estranho, porque é inimaginável ver Ciclano como seme... Gente, sério. Nem vou comentar sobre um relacionamento gay real, que não funciona bem assim, porque o foco é mais nas histórias. Mas a verdade é que rola até um preconceito de leve nesse clichê. O cara que é a “mulher” está privado, a partir daí, ser o “homem” e fim de papo.
  • O menor o olhou quando o maior fez que sim” – esse acontece em fics em geral, mas é mais frequente em histórias yaoi (acredito também que a ideia tenha sido disseminada a partir delas). Ninguém precisa fazer toda e cada frase citando os nomes dos personagens quando for se referir a eles, mas muitos autores criam tantos nomes alternativos que acabam substituindo os nomes reais com eles e a história fica confusa.


“O menor não gostava de ver o mais daquele jeito”

“O loiro avistou o moreno ao longe e acenou”

“O de olho azul piscou e o de tranças riu”


Não dá para imaginar decentemente a história assim, sério. Ainda mais se for num lemon. Esses adjetivos complicam, não ficam visualmente bonitos e não são muito explicativos. E se a pessoa não conhecer bem o fandom para saber que personagem é menor que o outro? Ela fica sem entender nada da história. 

E nem vou comentar o fato de “o menor” sempre ser o uke e “o maior” o seme, porque aí voltamos outra vez ao item 1.

  • Todo mundo é gay – em boa parte dos yaoi, por algum motivo, todo mundo é gay. O uke é gay, o seme é gay (óbvio), o amigo do uke é gay, o primo do seme é gay, o cara da padaria onde eles foram comprar pão é gay. Não vejo sentido nenhum nessa. Sua fic pode ser num internato, num hotel, num hospital, mas não existe nenhuma pessoa heterossexual, bissexual que seja? Bom senso, bom senso. E isso já é tão intenso entre as fanfics yaoi que, às vezes, quando aparece um personagem masculino novo na história, os leitores já assumem que ele é gay. Ou tem que ser. Precisa ser! E se o seme ou uke tem um irmão? Incesto já!
  • Cadê as mulheres normais? – fora o fato de praticamente não existirem – porque, além de todo mundo ser gay, mulheres em fics yaois são banidas da face da Terra –, as personagens femininas da história se encaixam em três categorias: a fujoshi, a lésbica e a vadia-que-vai-atrapalhar-o-yaoi-e-todo-mundo-vai-odiar. Acho bem irreal, já partindo da primeira. Nada contra fujoshis (acho que eu sou uma e não posso fazer nada pra mudar isso), mas tem sempre aquela personagem que vê os amiguinhos se pegando no yaoi e pira. Sai gritando, falando coisas inapropriadas, fazendo apologia em fics... Ou então a menina é lésbica. Porque é uma consequência, o cara é gay, a amiga dele tem que ser lésbica. Só assim para a personagem entender as coisas, só assim para ela aceitar.

E, por último, tem a personagem feminina que só está lá para causar na história e fazer todos os leitores a odiarem até o fim dos tempos porque ela “atrapalha o yaoi”. Às vezes ela nem atrapalha, mas só o fato de ter uma garota na história e não um cara (gay) é motivo suficiente pra ela ter o ódio eterno e declarado de todo mundo. E 95% dos leitores/escritores de yaoi é mulher! Lógica, onde está você?

  • Que falta de preconceito! – ainda no meio da realidade alternativa em que se passa a maioria das fics yaoi, é muito comum se deparar com esse item. O casal fica junto, se pega na rua, entre amigos, num jantar de família, e todos estão okay com isso. Claro que seria lindo se as coisas fossem assim de verdade, mas é uma ideia tão utópica que chega a ser desconcertante.

Nem todo mundo aceita homossexualidade. É um tema polêmico, como religião, política, e deve ser tratado como tal. Sua história pode não focar nisso, não chegar nem perto, mas daí se inserir num universo cor de rosa em que ninguém tem preconceitos... É quase como o item 5, no qual todo mundo é gay. 

E quando tem incesto? Um mundo que aprove homossexualidade cem por cento é aceitável perto de um que aprova inteiramente incesto. Quer dizer, chega a ser crime em alguns países! Por que fazer isso com a sua história?! O conflito pode deixá-la mais interessante, mais densa, mais atraente de um modo geral. E uma dose de realidade não faz mal a texto algum. 

Existem outros clichês (infinitos deles...), mas esses foram o que eu considerei piores. Repito que não tem problema usá-los em seus textos, quem lê mangás publicados mesmo ou assiste a animes com certeza já presenciou os sete ao menos uma vez. A questão é, como quase tudo na escrita, saber dosar esse uso.

***


Quem ajudou: Jean Claude, Lady Salieri, Leo Alves, Ana C., Diandra Santiago, Natália Marretti, Kaline Bogard, Nyuu D, Dayane Manfrere, Mylanessa.


32

Descrição dos cenários

terça-feira, 16 de julho de 2013

Por: André Felipe 
(Team da Liga dos Betas)




“Cenário: s.m. Decoração adequada a uma cena que se desenvolve no teatro. / Local onde se passa algum fato: o cenário do crime.”
Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa

"Descrição é a representação verbal de um objecto sensível (ser, coisa, paisagem), através da indicação dos seus aspectos mais característicos, dos pormenores que o individualizam, que o distinguem."
Othon M. Garcia


Antes de partirmos para a escrita de qualquer texto, devemos conscientizar-nos de que essa requer certas habilidades que apreendemos ao longo de nossa experiência, tais como aperfeiçoamento vocabular, domínio das regras gramaticais como um todo, conhecimento de elementos linguísticos e extratextuais, entre outros. Outro fator de extrema relevância é a técnica utilizada para compor os diversificados tipos de textos, sejam estes: narrativos, descritivos ou dissertativos. O texto descritivo por excelência consiste em uma percepção sensorial, representada pelos cinco sentidos (visão, tato, paladar, olfato e audição) no intuito de relatar as impressões capturadas com base em uma pessoa, objeto, animal, lugar ou mesmo um determinado acontecimento do cotidiano. É como se fosse uma fotografia traduzida por meio de palavras, sendo que estas são “ornamentadas” de riquíssimos detalhes, de modo a propiciar a criação de uma imagem do objeto descrito na mente do leitor.”

A descrição do cenário pode ser objetiva ou subjetiva. 

Na objetiva, descrevemos precisamente as características do objeto, registrando os detalhes com fidelidade fotográfica, sem o uso da subjetividade, isentando-nos de quaisquer termos que possibilitem múltiplas interpretações.

Já na subjetiva, a descrição assume um caráter lírico, em uma linguagem mais pessoal, que permite a expressão de sentimentos e emoções, e um ‘toque pessoal’ do escritor.

O processo de descrição deve ser iniciado com uma avaliação diagnóstica, em que primeiramente definimos o ‘objeto’ a ser descrito. Tendo o cenário em mente, imaginemos e visualizemos em nossa mente todos os objetos, detalhes e pessoalidades que o compõem. Imaginemos a iluminação, o aroma, o clima, o sombreamento e tudo mais que o componha. Anotemos tudo. É importante registrarmos para não perdermos as ideias e também para que tenhamos novas ao ler; sempre nos lembramos de alguns detalhes adicionais.

O próximo passo é transcrevermos a descrição, para fazermos isso podemos usar alguns recursos, como:


Uso de adjetivos para caracterizar o que é descrito; mas nada muito exagerado, lembre-se de que tudo tem de trazer significado para o texto

“A sala era bem grande e clara, as paredes eram brancas e ásperas, a tinta parecia nunca ter recebido um acabamento...”


Emprego de figuras de linguagem (metáforas, metonímias, comparações, sinestesias e personificações).

“Os ventos passavam murmurando dentre as janelas, as paredes do local — que outrora foram de um azul límpido como o céu — agora não possuíam mais vida, deixando um tom de morte por todo o local...”

Muito cuidado com o emprego das metáforas, se mal usadas podem destruir toda a descrição. Não arrisque nada muito exótico ou desconhecido, o convencional, se bem usado, tem um ótimo resultado.


Uso de advérbios de localização espacial

"Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e essa casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que devia ter uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali tinha um corredor comprido de onde saíam três portas; no final do corredor tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia dar no quintal e atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da bagunça..." (Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ)
           

É importante também que a descrição seja precedida de uma ‘ponte de ligação’, para que ela não ‘corte’ a cena, de forma que ela seja inserida no momento certo e propício para ilustrar a mente do leitor. Não hesite em iniciar a cena sem a descrição, isso vai incitar a curiosidade do leitor.

Lembre-se de que você não está escrevendo para você, então leia e releia quantas vezes forem necessárias, até que tenha a certeza de que a descrição ficou suficientemente clara, pra fascinar e não deixar escapar nenhum detalhe na mente de quem está lendo.

Eu, particularmente, recomendo que não disponibilizem imagens para auxiliar na descrição, isso tira do leitor a oportunidade de imaginar, das pessoalidades do cenário, no entanto, é válido usar uma imagem para se inspirar.


Por fim, concluímos que descrição do cenário é um aspecto extremamente importante para o conjunto da história. Uma história com cenários mal descritos causa confusão e desprazer na leitura. Um cenário bem construído maravilha o leitor e facilita a reprodução da história em sua mente.



Material consultado:
Site do escritor. O texto descritivo. Disponível em: http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_professor_virtual_assuntos_descricao.html. Acesso em: 14/07.
Vânia Duarte. O texto descritivo. Disponível em: http://www.brasilescola.com/redacao/o-texto-descritivo.html. Acesso em: 14/07.
Colégio Web. Descrição. Disponível em: http://www.colegioweb.com.br Acesso em: 14/07.

3

[Pedido] Cenas de ação

quarta-feira, 10 de julho de 2013


Por: Thammi Lima (Beta reader da Liga dos Betas)



 Antes de entrar no mundo das temidas e intrigantes cenas de ação, vamos saber, inicialmente, o que vem a ser uma cena.


CENA

As cenas, de acordo com pesquisas, na parte que nos interessa, são cada uma das situações ou momentos da evolução de um enredo. Ou seja, é aquele destaque no texto que empurra a história para frente, movimentando personagens em seus meios, num determinado instante. Pode-se dizer ainda que é o lugar onde se passa uma ação, um cenário, uma descrição sobre um local, uma figura presente no texto, a apresentação dos anseios dos personagens, a abertura, desenvolvimento e/ou fechamento de conflitos. 

Segue um exemplo de cena:


“Elena desceu as escadas, ainda que seu corpo lutasse contra a força que a movia para além da escuridão. O novo cômodo, inexplorado, cheirando a mofo, remeteu-lhe à década passada, quando a velha mansão acordava ao nascer do sol, sob o cacarejar das galinhas de tia Léa e o aroma gostoso de café recém-passado. Agora, tateando as paredes em meio ao breu, Elena sentia com tristeza os sinais do tempo nas paredes descamadas, no soalho apodrecido, rangendo sob seus pés cuidadosos. Seu coração apertou dentro do peito e ela mordeu o lábio para segurar a onda de remorso que subia-lhe pela garganta em forma de choro.”

Assim como num texto ou redação, uma cena também deve ter começo, meio e fim. Dessa forma, seu pensamento estará mais organizado e você conseguirá revelar ao leitor o contexto do que está expressando com mais clareza e, consequentemente, com riqueza de detalhes.


Lembre-se: quanto mais detalhes, mais bem descrita estará sua cena e será mais fácil para o leitor imaginar o que você está propondo para ele.

Então, concluindo, vemos que as cenas são integrantes fundamentais no contexto da história. Elas fazem parte do desenvolvimento do texto, dando sequência aos acontecimentos, trançando os diversos conflitos descritivamente, e realizando uma ponte entre os personagens, os leitores e o próprio autor. É através das cenas que os leitores irão se identificar (ou não) com o que é proposto na história e se aprofundar nas variadas situações pelas quais passam os mocinhos, vilões, animais de estimação e demais figuras presentes no texto.


Bem, entendido rapidamente o que vem a ser uma cena, vamos seguir para o que interessa. As cenas de ação.

Muitos escritores têm o privilégio de terem um pote cheio de imaginação dentro da cabeça, o que os auxilia e muito na hora de compor o enredo para uma história. Porém, logo percebem que nem tudo são flores, e lá, no meio do texto, eis que ele surge: o bloqueio das cenas de ação. Sim, pois é.
A dificuldade não está na montagem da cena de ação, mas sim na maneira como ela deve ser escrita e transmitida ao público, de modo que as pessoas consigam se transportar para dentro do texto e sentir como se um personagem fosse. Então, para amenizar os medos e tentar facilitar a construção desse tipo de cena em especial, vamos aos passos a seguir.


Elaboração da cena (Visual)

Monte a cena de ação na sua cabeça. Imagine o que vai acontecer, cada movimento, cada detalhe, cada fala. Se necessário, use um bloco de notas e anote tudo de importante, todos os elementos fundamentais para o desenvolvimento daquela cena. Vamos exemplificar, porque tudo com exemplo é mais assimilável, né? Vamos usar aquele texto inicial.


Texto original:


“Elena desceu as escadas, ainda que seu corpo lutasse contra a força que a movia para além da escuridão. O novo cômodo, inexplorado, cheirando a mofo, remeteu-lhe à década passada, quando a velha mansão acordava ao nascer do sol, sob o cacarejar das galinhas de tia Léa e o aroma gostoso de café recém-passado. Agora, tateando as paredes em meio ao breu, Elena sentia com tristeza os sinais do tempo nas paredes descamadas, no soalho apodrecido, rangendo sob seus pés cuidadosos. Seu coração apertou dentro do peito e ela mordeu o lábio para segurar a onda de remorso que subia-lhe pela garganta em forma de choro.”

Montando a cena:


  1. Personagem da cena: vou usar a personagem Elena e apenas ela nessa cena.

  1. O que ela vai fazer: Ela está na velha mansão e precisa ir para outro cômodo, onde a cena vai, de fato, se desenvolver. Então, aqui, eu preciso criar conectores que vão migrar minha personagem do local onde ela está originalmente para o outro, onde a ação começa. Como farei isso? Bem, a resposta é simplicidade! Sim, isso mesmo! Podemos escrever coisas ótimas de maneira bem simples. Veja:

“Elena desceu as escadas, ainda que seu corpo lutasse contra a força que a movia para além da escuridão.”

Nesse momento, seja você o personagem. Se transporte para a cena e se imagine naquele lugar, naquele instante. Como você contaria ao seu amigo aquele pedaço da história? Como você estava se sentindo? Com medo? Ansioso? Feliz? Triste? Respondendo essas perguntas, transcreva tudo para sua cena e veja como ficou. Se ainda assim o texto não está como você gostaria, busque referências nos dicionários, mude uma frase ou palavra, tente encaixar aquilo que melhor vai descrever o que você quer transmitir.


  1. O que ela está fazendo ou o que fará: Aqui você deve informar a parte descritiva da sua cena. Conte sobre onde está seu personagem, se faz sol, se chove, se é uma floresta, uma casa, se ele está sozinho ou acompanhado, se está em conflito com alguém ou apenas observando, pensando... Você pode, inclusive, expressar mais sobre isso através de falas. Exemplo:

— Eu gosto daqui. É uma boa casa, e o vento que vem da floresta refresca o ambiente durante a noite — comentou Jade, espiando a vista pela varanda do quarto.

Ou ainda:

— Admito, você sabe o que faz com uma espada, Sir Lancelot — Sir Henrick recuou poucos passos, o suor descendo-lhe pelas têmporas, a espada empunhada numa das mãos tremia levemente diante de seu visível cansaço físico. Ele arfava e cambaleava, entontecido pelo calor da batalha, mas, ainda assim, sorria, presunçosamente.

Então, fica a dica:

Escolha expressões sintéticas. Na maioria das vezes, uma palavra diz o mesmo que duas ou três juntas. Sempre que você estiver diante desse “dilema”, opte por menos palavras. Esse enxugamento não significa sacrificar a qualidade do texto. Ao contrário, reduzindo o número de palavras, você não apenas privilegiará a informação, como também poupará ao leitor tempo, produto cada vez mais escasso hoje em dia. Opte pela concisão.


Evite/ não use
Prefira
Teresa foi ligar para João...
Teresa ligou para João...
Ela estava querendo a atenção dele...
Ela queria a atenção dele...
Lúcia ia lá para a loja...
Lúcia ia para a loja...
Vamos ir para a praia?
Vamos para a praia?
Tudo corria bem, onde não tinha mais conflito...
Tudo corria bem, de maneira que não tinha mais conflito...


E o psicológico dos meus personagens, como fica?

Não podemos esquecer de construir, juntamente com a cena, o perfil psicológico das figuras que estarão em ação no contexto. Lembre-se que você deve levar em conta o perfil inicial do personagem. Se ele é bom, mau, inteligente, sarcástico, mal-humorado, preguiçoso... Não é apropriado mudar o foco psicológico de sua criação no meio do texto. O interessante é mesclar sentimentos, de modo que a figura da história possa passar por várias fases sentimentais, sem perder sua verdadeira identidade. Esse é um dos segredinhos das cenas de ação Saber o que se passa internamente com as figuras do texto é instigante para qualquer leitor. Então, capriche!

Ex.: Kate sempre fora medrosa e muito fraca. Ficava doente com constância quando pequena e pelo que me lembro, não tinha amigo algum. (Traço principal de seu perfil psicológico)
No texto: Kate era valente. Enfrentava os amigos da escola e mais de uma vez foi parar na detenção. (Mudança de personalidade)

Pergunte-se:

§  Essa descrição combina com o perfil psicológico do meu personagem?
§  Por que vou escrever que meu personagem está desse jeito nesse momento?
§  A descrição psicológica dele nesse contexto tem a ver com a minha cena?
§  As palavras que escolhi são boas para expressar esse sentimento?


Enfim, que palavras vou usar na descrição da cena que imaginei?


Encontrar a palavra exata para o que você quer dizer exige riqueza de vocabulário e sensibilidade. Mas há alguns princípios a serem observados:

1°) O contexto pode determinar a escolha da melhor palavra.

Ex.: “Furioso, o pai arrastou o filho pelo braço”. Quem está furioso não leva nem conduz; quem está furioso arrasta.
Ex. 2: “Sir Lancelot, movendo-se à barlavento, jogou o corpo contra Sir Henrick, na tentativa de derrubá-lo no chão”. Se a intenção do personagem é empurrar o outro para o chão, o que ele pode fazer é se jogar de encontro ao inimigo e ver se seu golpe surtirá o efeito desejado.

2°) Certas palavras, retiradas do contexto habitual, acabam por despertar o riso no leitor.

Ex.: A cozinheira botou os ovos na geladeira”. A cozinheira não botou, ela guardou os ovos na geladeira.
Ex. 2: “A cadela da Vivi era linda e muito sapeca”. Frase ambígua, afinal, o narrador fala sobre a cadela que Vivi tem.

3°) Há palavras presas a um contexto, positivo ou negativo. Deslocá-las desse contexto habitual gera problemas.

Ex.: “O bombeiro cometeu um ato de bravura”. Pessoas cometem erros, crimes e praticam boas ações, atos de bravura.

4°) Toda palavra possui um significado. Se você gosta de uma palavra e quer usá-la, busque o significado antes de jogá-la no texto. Verifique se a palavra se encaixa no contexto da história.

5°) Se estiver em dúvida sobre sua cena, busque opiniões, se possível. Discutir sobre o texto pode ajudar a melhorá-lo!


Então, resumindo:


Podemos perceber que ter uma cena, com início, meio e fim, entrelaçando os fatos e descrevendo os conflitos é essencial para que se contextualize uma ação. Para isso, é preciso saber o que se quer transmitir ao leitor, que personagens usar na criação da cena, ter em mente o que ele vai fazer, com quem estará, se vai dialogar, e se for, se esse diálogo é coerente com aquela cena em específico, transmitir os pensamentos e os sentimentos imediatos dos personagens e, enfim, passar tudo para o papel, escolhendo com calma as palavras que serão usadas.
As cenas de ação não são monstros e não devemos levantar barreiras para a criação delas. Leve-as como uma cena comum e escolha verbos de movimento que possam expressar bem aquilo que você quer passar, levando em conta as frases que você usará. E divirta-se, claro, porque escrever é, antes de tudo, divertimento!


Bibliografia
Como escrever melhor, série Sucesso Profissional
José Paulo Moreira de Oliveira e Carlos Alberto Paula Motta
0


As imagens que servem de ilustração para o posts do blog foram encontradas mediante pesquisa no google.com e não visamos nenhum fim comercial com suas respectivas veiculações. Ainda assim, se estamos usando indevidamente uma imagem sua, envie-nos um e-mail que a retiraremos no mesmo instante. Feito com ♥ Lariz Santana