Pronomes relativos

quarta-feira, 13 de novembro de 2013


Por: Letícia Silveira (Liga dos betas team)


“A mesa na qual estudava estava toda riscada”.


Pode parecer estranho, mas essa frase, de acordo com a maioria dos gramáticos, está gramaticalmente errada. Para alguns, “o qual” ou “a qual” soa melhor que “que” (já para outros, é o contrário, ou seja, o "que" soa melhor que "o qual", "a qual"); porém, a verdade é que não temos muita opção de quando utilizar cada um. E é para isso que lhes escrevo, para vermos como podemos conectar duas frases e estabelecer uma relação entre elas, substituindo palavras que não queremos repetir.

Para isso, precisamos compreender quais são os pronomes relativos e o que eles permitem de acordo com a maioria dos gramáticos.


1) QUE – Permite uma preposição que o anteceda com até uma sílaba (não precisa, necessariamente, conter uma preposição antes do pronome).


Ex. 1: “O trabalho a que me dedico é estressante”.

Ex. 2: “O dia que recém começou promete silenciosamente nos dar uma nova chance”.


Observemos o exemplo inicial. O que a pessoa quis dizer foi:


“A mesa estava toda riscada. Eu estudava na mesa”.


Logo, o que repetimos é “a mesa”; então, procuramos não repetir esse trecho e substituímo-lo. Para fazermo-lo, precisamos reparar no que vem antes de “a mesa” na segunda ideia (enquanto a primeira será a usada de base por ser a informação mais importante). Olhemos apenas a segunda frase:


“Eu estudava na mesa”.Esse “na” é a contração de “em + a”. Logo, há a preposição “em” antes do que se repete. Por isso, devemos colocar esse “em” antes do pronome relativo na segunda frase. Também é por essa razão que devemos, nessa frase em especial, utilizar o “que”, já que ele pode ser antecedido por preposições com uma sílaba (como “na”).

Assim, já temos algumas dicas do que pensar ao formar uma frase com pronomes relativos:

·      Ver o que se repete.
·      Procurar, na segunda frase (naquela que está se intercalando na principal), se há alguma preposição antecedendo o que se repete.
·      Essa preposição, obrigatoriamente, deve estar antes do pronome relativo e, dependendo do número de sílabas que ela conter e dependendo da relação que ela tem com o que se repete, determinará qual deve ser o pronome utilizado.



2) ONDE – É usado apenas para locais onde podemos entrar fisicamente. Por exemplo, não podemos adentrar na mesa, por isso não devemos escrever “a mesa onde estudava estava toda riscada”. O exemplo correto seria: “O museu onde eu trabalhava é muito reconhecido”. Esse pronome permite apenas preposições com uma sílaba antecedendo-o. 

Por instância: “A farmácia aonde eu ia era longe de casa” ou “O parque por onde andei ontem é perigoso”. (Lembremo-nos de que “aonde” é usado com verbos de movimento, quando há deslocamento, enquanto “onde” indica localização.)


Analisemos os exemplos acima:

A farmácia era longe de casa. Eu ia à farmácia.”


Se lembrarmos que “à” é a contração da preposição “a” mais o artigo “a”, sabemos que, ao substituirmos “a farmácia”, devemos colocar a preposição “a”.

Agora, faremos os passos que foram citados anteriormente:

· Ver o que se repete: “a farmácia”.
· Procurar, na segunda frase (naquela que está se intercalando na principal), se há alguma preposição antecedendo o que se repete: “preposição ‘a’”.
· Essa preposição, obrigatoriamente, deve estar antes do pronome relativo e, dependendo do número de sílabas que ela conter e dependendo da relação que ela tem com o que se repete, determinará qual deve ser o pronome utilizado: “aonde” (indica um local em que podemos entrar e tem uma preposição de apenas uma sílaba).

Na outra frase, temos:


“O parque é perigoso. Andei ontem pelo parque”.



· Ver o que se repete: “o parque”.


· Procurar, na segunda frase (naquela que está se intercalando na principal), se há alguma preposição antecedendo o que se repete: “preposiçãopor’, vinda da contração de por + a = pela”.


· Essa preposição, obrigatoriamente, deve estar antes do pronome relativo e, dependendo do número de sílabas que ela conter e dependendo da relação que ela tem com o que se repete, determinará qual deve ser o pronome utilizado: “por onde” (indica um local em que podemos entrar e tem uma preposição de apenas uma sílaba, “por”).


3) O QUAL (OS QUAIS) OU A QUAL (AS QUAIS) – O motivo pelo qual a frase “a mesa na qual...” está incorreta é que “o qual” e derivados devem ser utilizados com preposições de, no mínimo, duas sílabas. Assim, sempre que houver preposições “longas”, será “o qual” e seus derivados. Como “na”, que antecede “qual”, tem apenas uma sílaba, o seu uso é impróprio.

Um uso adequado seria: “O dinheiro através do qual paguei as contas já se esgotou”.

OBSERVAÇÃO: “o qual” irá variar concordando com aquilo que se repete. Como é “o dinheiro”, será “o qual”. Se fosse “os dinheiros”, seria “os quais”. Se fosse “a casa”, seria “a qual” e assim vai.



Vejamos:

“O dinheiro já se esgotou. Paguei as contas através daquele dinheiro”.


· Ver o que se repete: “o dinheiro” (aquele apenas se refere ao dinheiro citado anteriormente).

· Procurar, na segunda frase (naquela que está se intercalando na principal), se há alguma preposição antecedendo o que se repete: “através de”.

· Essa preposição, obrigatoriamente, deve estar antes do pronome relativo e, dependendo do número de sílabas que ela conter e dependendo da relação que ela tem com o que se repete, determinará qual deve ser o pronome utilizado: “através da qual” (tem uma preposição de mais de duas sílabas, “através de”, e é uma preposição “longa”). 



*CASOS COM AMBIGUIDADE:


“O qual” pode, porém, ser utilizado livremente (sem exigências de sílabas antecedendo-o) quando a frase apresentar ambiguidade. Por exemplo:


“O porão da casa, em que me encontrava, era assustador”.

Afinal, eu me encontrava no porão da casa ou na casa? Para contornar essa dúvida, podemos utilizar “o qual”, podendo alterar o sentido da casa. Assim:


“O porão da casa, no qual me encontrava, era assustador”.
(Eu estava no porão.)



“O porão da casa, na qual me encontrava, era assustador”.
(Eu estava na casa.)
Porém, isso não é lei. Apenas recomenda-se utilizar esse pronome nesses casos, pois facilita a compreensão do texto.


4) QUEM – Primeiramente, ele só deve ser usado com pessoas. Também, não deve ser utilizado sem preposição. Assim, a frase “minha mãe, quem eu amo, é maravilhosa” está incorreta gramaticalmente. O uso mais correto seria: “A minha mãe, que eu amo, é maravilhosa”.

Porém, “quem” pode ser utilizado em casos como: “A minha mãe, a quem eu dei um abraço, é maravilhosa”. Isso porque:

“A minha mãe é maravilhosa. Dei um abraço à minha mãe”.



· Ver o que se repete: “a minha mãe”.

· Procurar, na segunda frase (naquela que está se intercalando na principal), se há alguma preposição antecedendo o que se repete: “preposição ‘a’ vinda do acento grave”.


· Essa preposição, obrigatoriamente, deve estar antes do pronome relativo e, dependendo do número de sílabas que ela conter e dependendo da relação que ela tem com o que se repete, determinará qual deve ser o pronome utilizado: “a quem” (refere-se a uma pessoa e possui preposição, então pode ser usado “quem”).



5) CUJO(A) – Ele indica posse, ou seja, quando alguém possui algo (e notem que “possuir” só é utilizado em relações materiais). Pode ser utilizado com ou sem preposição, independentemente do número de sílabas. Vejamos um exemplo para desmembrar o temido “cujo”:


“O menino cuja carteira havia sido roubada não tinha como voltar para casa”.

Nesse caso, temos, seguindo a mesma lógica:

O menino não tinha como voltar para casa. A carteira do menino havia sido roubada”.



· Ver o que se repete: “o menino”.

· Procurar, na segunda frase (naquela que está se intercalando na principal), se há alguma preposição antecedendo o que se repete: “preposição ‘de’, vinda da contração de ‘de’ mais artigo ‘o’”.

· Essa preposição, obrigatoriamente, deve estar antes do pronome relativo e, dependendo do número de sílabas que ela conter e dependendo da relação que ela tem com o que se repete, determinará qual deve ser o pronome utilizado: utilizaremos “cujo” por haver “de” antes do que se repete e, antes desse “de”, haver outro substantivo. Esquematizemo-lo:

(PREPOSIÇÃO) + SUBSTANTIVO + DE + O QUE SE REPETE

Essa é a frase original. Ela deve se transformar em:

O QUE SE REPETE + (PREPOSIÇÃO) + CUJO(OS, A, AS) + SUBSTANTIVO

Por isso, vamos lembrar o que é substantivo: é uma coisa, é um nome. Sempre que quisermos comprovar, podemos colocar nessa frase: “a(o) _______ é bonita(o)”. Por exemplo: “a carteira é bonita”. Coube? Então, é um substantivo. Como temos naquela frase, “a carteira do menino”, utilizamos o “cujo”.



OBSERVAÇÃO: “cujo” sempre concordará com aquilo que vem depois dele (daquilo que vem depois da preposição “de”). Por exemplo, “o aluno cuja família”, “os alunos cujas famílias”, “o aluno cujo celular”, “o aluno cujos celulares”...

OBSERVAÇÃO 2: usar artigo (a, as, o, os) depois de “cujo” é incorreto. O artigo estará “contido” no pronome.


Vamos observar outro exemplo para colocarmos os ensinamentos em prática:

“A menina com cujas atitudes não concordo não é minha amiga”.

Assim,

“A menina não é minha amiga. Não concordo com as atitudes da menina”.



· Ver o que se repete: “a menina”.

· Procurar, na segunda frase (naquela que está se intercalando na principal), se há alguma preposição antecedendo o que se repete: “preposição ‘de’, vinda da contração de ‘de’ mais artigo ‘a’”.

· Essa preposição, obrigatoriamente, deve estar antes do pronome relativo e, dependendo do número de sílabas que ela conter e dependendo da relação que ela tem com o que se repete, determinará qual deve ser o pronome utilizado: “com cujas”

Para explicar o motivo do uso, vejamos:



(PREPOSIÇÃO) + SUBSTANTIVO + DE + O QUE SE REPETE
Com + as atitudes + de + a menina


O QUE SE REPETE + (PREPOSIÇÃO) + CUJO(OS, A, AS) +
SUBSTANTIVO
A menina + com + cujas + atitudes



Assim, “cujas” estará com o artigo “as” e “atitudes” estará seguindo “cujas”. Antes de “cujas” estará o “com” por ele estar antecedendo o substantivo que vem antes do que se repete. 

Está entendido? Então agora vem a melhor parte: o descanso. Caso restarem dúvidas (o que eu sei que é muito fácil de acontecer visto que o conteúdo é complexo), esclarecê-las-ei através dos comentários. Espero vê-los em breve, futuros ninjas gramaticais.

Fontes:


4 comentários:

  1. Letícia,
    Acho que ainda não consegui entender a construção correta da frase da mesa. O correto então seria "A mesa na que estudava estava toda riscada"?
    Se for isso mesmo, você tem razão: é pra lá de estranho.
    Obrigada!
    Renata

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom, não sei se é esta sua dúvida, mas, no caso desse exemplo da mesa, tanto faz, Renata. O "que" é igual a "o qual" e "a qual".
      Bjos^^

      Excluir
  2. Letícia, agradeço pela resposta.
    A dúvida surgiu porque no início do post você escreve que segundo alguns gramáticos o uso de "(n)a qual" seria gramaticalmente errado naquele exemplo. Como você não indicou a frase completa com o uso de "que", fiquei com dúvida. Apesar de ler e reler o post, eu não tinha conseguido entender qual seria a estrutura correta com o uso de "que". Achei que a construção "a mesa na que estudava(...)" soava estranha. Então seria "na que estudava" ou "em que estudava"? Ou ambas? Obrigada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A questão vai variar de acordo com autor A ou B, mas não creio que você deva se preocupar com isso^^.

      No caso dessa sua última dúvida, postada na mensagem aqui acima, o adequado seria "a mesa na qual estudava" ou "a mesa em que estudava". "A mesa na que estudava" não seria gramaticalmente adequado.

      Abração!

      Excluir

O blog da Liga é um espaço para ajudar os escritores iniciantes a colocarem suas ideias no papel da melhor maneira possível.



As imagens que servem de ilustração para o posts do blog foram encontradas mediante pesquisa no google.com e não visamos nenhum fim comercial com suas respectivas veiculações. Ainda assim, se estamos usando indevidamente uma imagem sua, envie-nos um e-mail que a retiraremos no mesmo instante. Feito com ♥ Lariz Santana