As relações entre as personagens*

terça-feira, 23 de julho de 2013

Por: Daniel Cavalcante (colaborador)
*Texto publicado originalmente no site Quadrinize

Relacionamento
Ninguém é uma ilha em si mesmo. Cada um é uma porção do continente, uma parte do oceano – John Donne

Se existe uma habilidade inata no ser humano é a capacidade de se relacionar com os de sua própria espécie. Seja em menor ou maior nível, até mesmo os mais tímidos e reservados sabem estabelecer contatos – e sentem necessidade disso.

Relacionamento é a forma como duas pessoas se comunicam e interagem entre si. É o resultado do que cada uma das partes coloca de si mesmo “sobre a mesa”, como em um jogo de cartas sem regras. Cada ação provocará uma consequência, uma atitude que a outra pessoa escolherá para responder. Esse jogo pode durar a vida inteira ou até que se rompa o relacionamento. E muda vidas para sempre, para o bem ou para o mal.
As histórias de vida são construídas sobre relacionamentos. São eles que nos definem. É a qualidade, profundidade e intensidade do relacionamento que você estabelece com os que o cercam – nossas famílias, colegas de escola, vizinhos, amigos, os que nos prestam serviços, colegas de trabalho, conjunges – e consigo mesmo, que lhe dirá se você alcançou ou não a tão sonhada felicidade. Afinal, tudo o que você mais busca, seja afeto ou dinheiro, depende do seu relacionamento com alguém.
Como dizem Joseph Campbell e Robert McKee, histórias são metáforas para a vida. E não podíamos deixar esse assunto tão presente em nossas vidas de fora das discussões.
Quando se fala em relacionamento entre personagens de quadrinhos, logo se pensa em histórias de cotidiano sobre belas amizades e amores, muito comuns em graphic novels e mangás. De fato, desde as HQs de Will Eisner aos romances shoujo, temos inúmeros exemplos de histórias de vidas, felizes e trágicas, resultado da construção de um bom ou mal relacionamento.
Mas nas histórias de heróis o relacionamento também é essencial. O que seria do Naruto sem o relacionamento que teve com Sasuke, Kakashi, Jiraya e o terceiro Hokage? Ou do Batman sem seus pais e Alfred? Imaginem se Wolverine nunca tivesse encontrado Xavier! E se o Professor X jamais houvesse sido amigo de Magneto? O que dizer da capacidade de Monkey D. Luffy (ou Ruffy), de One Piece, de atrair aliados para sua tripulação?
O que aconteceria se os heróis não estabelecessem nenhum tipo de relacionamento, mesmo que antagônico, com seus piores inimigos? Teríamos apenas batalhas vazias para impedir um crime ou por vingança. Jamais conheceríamos histórias fascinantes em que herói e vilão se confrontam, se entendem e, muitas vezes, resolvem suas pendengas sem que alguém precise morrer, ou jurem uma guerra eterna na qual a morte é insuficiente como castigo. Nunca conheceríamos a fascinante disputa entre L e Kira, em Death Note. Não teríamos o eterno embate entre Batman e Coringa ou Homem-Aranha e Duende Verde. E Kenshin nunca poderia influenciar diversos de seus inimigos a ponto de torná-los aliados. Nesses exemplos, os relacionamentos entre os inimigos tornam a histórias muito mais interessantes e profundas.
Também podemos afirmar que, nas histórias, a má qualidade dos relacionamentos dos personagens também os definem. É importante destacar que nem sempre é uma influência negativa. Naruto e Gaara tiveram uma infância muito semelhante, sendo rejeitados por todos à sua volta. Mas cada um escolheu como reagir à isso. Um decidiu mostrar seu valor e conquistar a amizade de todos, o outro usou o medo que tinham dele a seu favor e se tornou um assassino, para que o respeitassem. O oposto também é verdadeiro. A amizade entre Charles Xavier e Erik Lensherr não garantiu que ambos seguissem o mesmo caminho, ao contrário, se tornaram inimigos.

Para que o relacionamento entre seus personagens seja interessante, você precisa construí-los com personalidades distintas. Se todos forem iguais e pensarem da mesma forma, concordando com tudo, não haverá sequer necessidade de se relacionar. Mas, como na vida real, personagens devem ser únicos e certamente terão conflitos uns com os outros. É comum que tenham dificuldades de desenvolver um bom relacionamento. Cabe ao autor decidir quais são os tipos de relacionamento seus personagens terão e como serão desenvolvidos ao longo de sua história, sempre pensando no que quer que sua história transmita e na experiencia de leitura do seu público.

4 comentários:

  1. Gostei bastante do texto.
    E quanto mais posts sobre personagens, melhor.
    Parabéns xD

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    1. Certamente, mais postagens sobre o assunto virão. Fica atento/a!

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  2. Me ajudou muito, esse texto para continuar minha pesquisa sobre os personagens do roteiro em que estou lendo.obrigado

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