Metáforas – de arma valiosa à destruidora de fics.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Por: Aphrodite Laclair


Mas, antes de tudo, o que é metáfora? De acordo com a Wikipédia em seus raros momentos de lucidez, o verbete significa: é a palavra ou expressão que produz sentidos figurados por meio de comparações implícitas. Ela pode dar um duplo sentido à frase. 

Usando um exemplo, poderíamos, então, dizer que a frase “amor é fogo que arde sem se ver”, do Luís de Camões, é uma metáfora. Isso ocorre porque, obviamente, o amor não é fogo coisíssima nenhuma e, muito menos, um que arde sem ninguém ver. 

Outra metáfora seria a frase de Cesário Verde: “vi sorrir o amor que tu me destes”. Claramente, não existe maneira de se ver um substantivo abstrato (o amor), e sentimentos não saem sorrindo por aí, a torto e a direito. 

Fernando Pessoa chamou seu próprio coração de “balde despejado”, e não preciso nem dizer que, de balde despejado, o coração humano não tem absolutamente nada, certo? Todos aqui estão ligados na anatomia humana (além da parte, sabe como é, reprodutora)?

O grande problema da metáfora é que – ao passo que, se bem utilizada, ela é mágica e maravilhosa –, nas mãos erradas, ela pode simplesmente dar um ar patético, amador, ridículo, irritante, esquisito, chato, etc., ao seu texto. Como grande parte dos artifícios literários utilizados por autores competentes, a metáfora não deve ser subestimada ou simplesmente suposta que é fácil de ser trabalhada. 

Em grande parte, metáforas são agregadas ao estilo pessoal do autor que as utiliza com frequência, mas, para os desacostumados, deixem-me avisá-los: não é tão simples quanto parece. 

E isso começa pelo momento em que você escolhe a metáfora a ser encaixada naquele contexto x. Você, obviamente, não pode – sem mais nem menos – chegar e chamar a inocência de “grandes campos verdejantes com pássaros que cantavam” ou, em um momento de ousadia de sua parte, chamar o amor materno de “buraco negro e terrível de fundo indivisível”. "Por que não?", você me pergunta, jovem padawan. Porém apenas imagine:

O amor de minha mãe era um grande buraco negro e terrível de fundo indivisível.
Ou, talvez, quem sabe:

A fé era uma grande privada gigante e cheia de fezes.
Oi?

Você necessita de coerência.

Decidida a metáfora correta, há também a quantidade. Eu já me deparei, muitas e muitas vezes, com fanfics em que o autor não se cansava de usar as mais variadas (e, por vezes, aleatórias) comparações para uma mesma coisa ou, simplesmente, para algo que já estava muito claro com a descrição anterior. Há de se dizer que, em um capítulo de quinze parágrafos, por exemplo, encher todos eles de metáforas desnecessárias é simplesmente cansativo, enfadonho, irritante-pra-caramba ou vou-fechar-isso-aqui-agora. 

Não existe uma maneira de ensinar a trabalhar com esse pequeno artifício literário. Não é uma fórmula de 2+2=4, mas o meu conselho é: pratique. Em qualquer coisa, e escrever definitivamente não é a exceção, é a prática que leva à perfeição. Como já dizia Stephen King, talento é mais barato que sal de cozinha, e eu acrescento que, afinal, ninguém nasce sabendo, e procurar trabalhar aptidões naturais ou simplesmente aprender novas é sempre bom. 

Enfim, seguindo em frente, metáforas são extremamente comuns, estando escondidas em frases cotidianas e aparentemente desprovidas de qualquer figura de linguagem; e entender como elas se infiltram ou funcionam é uma boa maneira de começar.

“Deu um branco na minha mente”, pensa Maria.



Suponho eu que, a menos que você tenha saído do livro Ensaio Sobre a Cegueira, você definitivamente não está vendo tudo branco. Muito menos, com a mente inundada por branco! Mas, de fato, você consegue claramente entender o que Maria, nossa personagem imaginária, quis falar. 

Essa é, essencialmente, a função da metáfora. Mais do que embelezar seu texto ou enrolar descaradamente, ela tem a função primordial de tornar mais fácil a compreensão ou visualização de um elemento em questão, como, por exemplo, eu estou me sentindo para baixo hoje. 

Para finalizar, eu sugeriria que você, antes de utilizar uma metáfora, se perguntasse se ela se encaixa no contexto, se ela é coerente e se ela não é simplesmente cansativa e/ou enfadonha. É um texto. É uma fanfic. É literatura. E, sendo honesta, beleza e criatividade realmente nos interessam.



Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Met%C3%A1fora

http://www.golfinho.com.br/artpnl/artigodomes200707.htm

http://histericasgrabaciones.blogspot.com.br/2012/09/metafora-la-fusion-de-estilos-como.html (imagem)



Ana Luísa é descaradamente o bebê do Team e Rainha Nerd, ama feminismo, filosofia, vegetarianismo, literatura e política. Pretende juntar tudo e decidir o que fazer da vida - em algum momento. Até lá, é militante em causas sociais. 



Um comentário:

  1. Eu não consigo ler "metáfora" e não pensar no personagem no personagem de A Culpa É Das Estrelas.
    Eu adoro metáforas. Mas, sinceramente, essa aí da privada me fez rir. E eu li uma história que tinha metáforas que eu ficava lendo até desistir de tentar entender. Tipo, como essa aí no exemplo (O amor de minha mãe era um grande buraco negro e terrível de fundo indivisível), eu fiquei pensando: "E desde quando o fundo é divisível? E quando é indivisível? Mas será que isso significa dividir? Não consegui compreender..." porque a metáfora é tão aleatória que não dá para entender, ainda mais quando não se encaixa no contexto.
    Agora, se você dizer que o "amor de minha mãe é um grande buraco negro", eu posso entender que o amor de sua mãe é infinito, sem fim. Ou posso entender que a sua mãe te odeia. Enfim, como disse antes, incompreensível.
    Ótimo artigo, colocarei nos meus favoritos.

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